Começo citando meu mestre Drummond: "Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado."
Afinal, a nossa densidade demográfica aumenta e o nosso convívio diminui. Mas a sociedade é sempre surpreendente, vou dizer porque:
Primeiro caso, lembro que, para ir me encontrar com uma ex-namorada, eu pegava o Antônio Bezerra/Messejana aos domingos, no horário que era o mesmo do fim da feira. Então subia um monte de gente no ônibus fedendo a suor. Mas era suor de trabalho, de quem precisa daquilo para sobreviver. Mas eu, com a minha vidinha ganha, achava horrível aquele cheiro. Pensem bem, o que é melhor para aquele povo: eles ganharam o dinheiro deles e terem como sobreviver ou voltarem cheirosos para casa porque o filhinho da classe média não quer sentir seu fedor? No terceiro domingo de viagem até conversei com um deles, entender um pouco mais como é a vida deles. Quem sabe eles sentiram a minha falta aos domingos, já que o namoro acabou...
Segundo caso – parte 1 – com a aquisição de celulares com capacidade tocar mp3, as pessoas agora entram no ônibus, botam o fone no ouvido e se fecham na referida bolha do título. Já perceberam como é inconveniente você conversar com alguém que está com um fone no ouvido e que notadamente preferem ouvir a música do que conversar com um amigo que encontram casualmente no mesmo transporte? Você tem que repetir todas as suas perguntas porque certamente ele vai pedir para você dizer de novo.
Segundo caso – parte 2 – mas o que eu falei na parte 1 é apenas o que os filhinhos da classe média fizeram, a classe mais humilde, mais atenta ao que está ao seu redor, escuta é sem fone mesmo, coloca no som alto para todo mundo ouvir os forrós, raps e funcks da vida. Vocês não sabem como isso incomoda. Mas incomoda à minha bolha de sabão! Afinal, tem gente ali naquele ônibus, que está sem nada para fazer e está gostando do som alto. Nota mental: a minha bolha começa quando a sua termina. O som dele entrou na minha bolha, mas e a minha tolerância foi até aonde?
Segundo caso – parte 3 – é sabido por quem me conhece que eu leio dentro de ônibus, e estava eu lendo meu 'Cemitério dos Vivos', certo dia, quando senta um cara do meu lado e liga o celular, tocando um brega nas alturas. Fecho a cara e dou uma olhada violenta para o cabra ao meu lado. Fecho o livro com uma violência maior ainda e me dedico a olhar a paisagem, e até apreciando a música, que era um brega muito bom. Educadamente, o cara percebe que atrapalhou a minha leitura, pega o fone dele e coloca um lado no celular e o outro nas orelhas. Dessa forma, com um pouco de remorso do que fiz, aproveito a deixa e volto a ler meu livro. Apesar do remorso, oportunidade e piadas bestas não devem ser perdidas nunca!
Meu livro 'Desenho Urbano' fala muito disso. De como necessitamos do próximo e de como, por mais que desejamos ficar sozinhos, um olhar mais geral da situação, as vezes, é mais importante do que olhar apenas para seu umbigo. Até porque, quando foi a última vez que você limpou o seu?
CA Ribeiro Neto
Afinal, a nossa densidade demográfica aumenta e o nosso convívio diminui. Mas a sociedade é sempre surpreendente, vou dizer porque:
Primeiro caso, lembro que, para ir me encontrar com uma ex-namorada, eu pegava o Antônio Bezerra/Messejana aos domingos, no horário que era o mesmo do fim da feira. Então subia um monte de gente no ônibus fedendo a suor. Mas era suor de trabalho, de quem precisa daquilo para sobreviver. Mas eu, com a minha vidinha ganha, achava horrível aquele cheiro. Pensem bem, o que é melhor para aquele povo: eles ganharam o dinheiro deles e terem como sobreviver ou voltarem cheirosos para casa porque o filhinho da classe média não quer sentir seu fedor? No terceiro domingo de viagem até conversei com um deles, entender um pouco mais como é a vida deles. Quem sabe eles sentiram a minha falta aos domingos, já que o namoro acabou...
Segundo caso – parte 1 – com a aquisição de celulares com capacidade tocar mp3, as pessoas agora entram no ônibus, botam o fone no ouvido e se fecham na referida bolha do título. Já perceberam como é inconveniente você conversar com alguém que está com um fone no ouvido e que notadamente preferem ouvir a música do que conversar com um amigo que encontram casualmente no mesmo transporte? Você tem que repetir todas as suas perguntas porque certamente ele vai pedir para você dizer de novo.
Segundo caso – parte 2 – mas o que eu falei na parte 1 é apenas o que os filhinhos da classe média fizeram, a classe mais humilde, mais atenta ao que está ao seu redor, escuta é sem fone mesmo, coloca no som alto para todo mundo ouvir os forrós, raps e funcks da vida. Vocês não sabem como isso incomoda. Mas incomoda à minha bolha de sabão! Afinal, tem gente ali naquele ônibus, que está sem nada para fazer e está gostando do som alto. Nota mental: a minha bolha começa quando a sua termina. O som dele entrou na minha bolha, mas e a minha tolerância foi até aonde?
Segundo caso – parte 3 – é sabido por quem me conhece que eu leio dentro de ônibus, e estava eu lendo meu 'Cemitério dos Vivos', certo dia, quando senta um cara do meu lado e liga o celular, tocando um brega nas alturas. Fecho a cara e dou uma olhada violenta para o cabra ao meu lado. Fecho o livro com uma violência maior ainda e me dedico a olhar a paisagem, e até apreciando a música, que era um brega muito bom. Educadamente, o cara percebe que atrapalhou a minha leitura, pega o fone dele e coloca um lado no celular e o outro nas orelhas. Dessa forma, com um pouco de remorso do que fiz, aproveito a deixa e volto a ler meu livro. Apesar do remorso, oportunidade e piadas bestas não devem ser perdidas nunca!
Meu livro 'Desenho Urbano' fala muito disso. De como necessitamos do próximo e de como, por mais que desejamos ficar sozinhos, um olhar mais geral da situação, as vezes, é mais importante do que olhar apenas para seu umbigo. Até porque, quando foi a última vez que você limpou o seu?
CA Ribeiro Neto
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* E como eu disse quinta passada, aceito desafios de textos também!
* Twitter virou meu grande outdoor @caribeironeto
* Tudo bem comigo; e com você?
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ESCUTANDO NO MOMENTO: O Cristo de madeira - Ana Carolina
LENDO NO MOMENTO: Alguma Poesia - Drummond - pg. 254 // Ladrão de Cadáveres - Patricia Melo - Cap. 20.
Boa Sorte.