A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Constrangimentos do meu eu-lírico

Esqueci de mencionar no post passado, mas eu tinha mais um desafio feito pelo Thiago Cesar: falar do maior constrangimento que eu já passei. Não tendo um grande, fiz uma coletânea de uns menorzinhos.


Constrangimentos do meu eu-lírico



O destino é menino malino que adora frescar com a cara dos humanos e todos nós acabamos por ter histórias constrangedoras para contar. Envergonhando-me, enumerá-las-ei; algumas, é verdade, devido ao espaço e tempo, entre as quais consigo recordar agora.
Quando se está na infância e adolescência, esses fatos acontecem em maior quantidade, o que denomina-se mazelagem. Lembro-me que certa vez fui com uma tia a um mercadinho bem humilde perto de minha casa. Lá morava uma menininha mais novinha do que eu (ela devia ter uns três ou quatro anos e eu uns sete ou oito) que, me achando bem fofinho, sendo eu gordinho desde pivete, resolveu por bem dar-me uma mordida na bunda. Doeu, sim, mas nada se compara a vergonha que era ter uma pessoa mordendo minha bunda em local público. Se eu já soubesse palavrões nessa época, eu teria gritado um. Não sabendo-os, virei-me, segurei as lágrimas e me retirei.
Acostumado a fazer teatro e dublagens musicais para ganhar uma graninha e curtir o feriado, nunca tive muita vergonha quando criança. Acontecia mais quando minha mãe e tias inventavam namoradas para mim. Ficava logo vermelho e sem fala, mesmo não sendo verdade, na maioria das vezes – e isso acontece até hoje.
Mas eu pirralho me danei mais do que me constrangi. Na adolescência é que geralmente essas coisas, junto com a puberdade, se desenvolvem mais. Fiquei muito envergonhado quando tive minha primeira polução noturna – quando o garoto tem uma ejaculação involuntária durante a noite. Acordei no dia seguinte com o calção meio preguento e corri para perguntar a minha mãe o que era aquilo. Não sei quem estava mais envergonhado: eu ao saber do que se tratava ou a minha mãe ao tentar explicar.
Pior do que esse dia, só no dia em que, em momento de imbecilidade juvenil, fui inventar de me masturbar em minha cama, de porta e janelas abertas, numa tarde qualquer. Minha mãe e minha irmã acabaram vendo e eu não sabia nem o que dizer, se tinha algo a dizer!
Fora isso, fui um mazela comum na adolescência, dei muitos “tchau” não correspondidos ou correspondi os que não eram para mim. Mencionei várias frases que ninguém escutou, dei ideias que ninguém gostou – perderam! Já tive um namoro de vinte horas, já levei foras em público – mas com carinho. Já dancei com quem não queria e vi dançar com outro quem eu queria que dançasse comigo – e o pior: já dancei horrivelmente um forró com quem realmente queria dançar. Já precisei ir urgente ao banheiro da FUNCEME – foi mal, FUNCEME – e não ter papel higiênico lá. Mas esse não foi bem vergonha, porque ninguém sentiu a minha falta – ou não a mencionou.
Já joguei num time de basquete que perdeu de 2 a 0! Já joguei num time de futsal que ganhou todas no pré-campeonato e saiu goleado nos três jogos que valiam algo – e eu era o goleiro, mas defendi um pênalti! Já caí no chão quando desci do ônibus, assim como já caí no colo de outra pessoa numa freada brusca do ônibus. Já peguei ônibus errado e já quase parti a cara de um outro passageiro por discussão banal.
Hoje em dia estou mais imune a essas coisas, apesar de que: uma vez mazela, sempre mazela. Sempre tem aquelas situações embaraçosas que agora já sei sair com mais estilo, como agora, que estou contando tudo isso a vocês, todo envergonhado, rindo de mim e fingindo que nada é comigo! Qualquer coisa, foi meu eu-lírico!


CA Ribeiro Neto
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* Pago mais um desafio, os outros mencionados na quinta passada já estão encaminhados.
* 2011 está caindo muito, mas tem nada não. Depois da queda, a projeção da subida vai ficar mais bonita.
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Opinião - Nara Leão

LENDO NO MOMENTO: João do Rio - Vida, Paixão e Obra - João Carlos Rodrigues - pg. 244 // Dom Casmurro e os discos voadores - Machado de Assis e Lucio Manfredi - cap. 95.
 
Boa Sorte

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

De Carlos para Carlos - Melancolio

Na minha ação, quase desabafo; no exemplo dele, sempre aprendizado, poesias de melancolia para regar a noite. Não comparem, seria injusto.


Melancolio

Procuro melancolia pra mim.
mas, se não fosse assim,
não haveria outro meio
que justificasse o meu fim.

CA Ribeiro

***


Cantiga de Viúvo

A noite caiu na minh'alma,
fiquei triste sem querer.
Uma sombra veio vindo,
veio vindo, me abraçou.
Era a sombra de meu bem
que morreu há tanto tempo.

me abraçou com tanto amor
me apertou com tanto fogo
me beijou, me consolou.

Depois riu devagarinho,
me disse adeus com a cabeça
e saiu. Fechou a porta.
Ouvi seus passos na escada.
Depois mais nada...
acabou.


C Drummond de A
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* Os últimos dias estão meio agitados, mas está prometidos próximos textos desafiados: mais análises bregas e um texto comparativo entre João do Rio e Lima Barreto.
* Se eu estiver esquecendo de algum desafio que tenham feito a mim, por favor, lembrem-me.
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Essa Mania - Martinália
LENDO NO MOMENTO: João do Rio - Vida, Paixão e Obra - João Carlos Rodrigues - pg. 146 // Dom Casmurro e os discos voadores - Machado de Assis e Lucio Manfredi - cap. 91.

Boa Sorte

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Advogando em favor dos livros de bolso

Crônica adaptada da pesquisa que fiz para apresentar internamente aos vendedores da Livraria Cultura.


Advogando em favor dos livros de bolso



Livreiro que sou, por vendê-los, pelo carinho e pelo desejo de criá-los, sempre me dedico a entender não só de literatura, mas de editoração também. Liso que sou, consumo os livros de bolso de editoras nacionais. Daí, venho em defesa desse tipo de livro.
Muitas pessoas fecham a cara para esse tipo de livro, alegando ser péssimas traduções, ter as letras muito pequenas, ter uma qualidade muito inferior em relação aos livros normais. Em algumas partes eu concordo, mas na grande maioria das situação, isso não é bem verdade.
Os LdB (assim que chamarei os livros de bolso, de agora em diante) foram criados na Alemanha com o objetivo principal de baratear os custos da produção de livros e, assim, ampliar o acesso à leitura. Utilizando materiais de qualidade inferior e formatações menores, esses livros passaram a ser publicados e consumidos de forma mais cotidiana, quase descartável. Talvez doa menos o coração ver um LdB jogado ao lixo, acho. E, afinal, o que importa mesmo não é o conteúdo?
Desta forma, a produção mundial de LdB acabou se tornando padrão, pouco depois do lançamento em tamanho normal, encadernado etc. É desse jeito mesmo, vamos dá um exemplo: você quer comprar uma sequência de 7 livros, onde 3 já foram publicados, um está sendo lançado no momento e 3 ainda serão publicados futuramente. Certamente você só encontrará os 3 primeiros em LdB e o resto em versão encadernada. Não adianta espernear, quando eles lançam o pocket, esgotam o normal!
Mas no Brasil, como em quase tudo que fazemos, temos o nosso jeitinho particular. Aqui, a qualidade editorial é muito melhor. Capas caprichadas e algumas de material muito bom. Não há LdB nacionais em papel-jornal, e conseguimos até encontrar editoras que publicam em papel-bíblia! Parece mesmo um livro normal que não pegou muito fermento!
Podemos considerar principais 8 editoras brasileiras: L&PM, Martin Claret (essas duas primeiras são as que tem o maior acervo e são especializadas nesse segmento); Ateliê Editorial, Globo e Hedra (as três tem livros de bolso e normal, mas usam a mesma marca); Bestbolso, Ponto de Leitura e Companhia de bolso (essas três são selos de editoras grandes: Record, Objetiva e Companhia das Letras, respectivamente).
Essas editoras grandes são um dos pontos de minha defesa. Muito se reclama das traduções dos LdB, mas confiam nas traduções das editoras conhecidas. Essas editoras não vão pagar um outro tradutor para fazer uma pior tradução só para colocar no selo de bolso! Eles apenas reformatam o texto em um tamanho menor!
Todas essas editoras tem uma grande variedade de literatura brasileira e portuguesa, que não precisam ser traduzidas. A Ateliê Cultural só publica autores brasileiros e portugueses, ou seja, nem vaga para tradutor tem lá! Algumas até escrevem na capa que os textos estão na íntegra para ver se os leitores acreditam mesmo!
Os preços também são bem convidativos: variam entre 8 e 30 reais. E é o que eu digo, quando me perguntam se não é melhor vender um livro de 50 reais; respondo que prefiro vender 3 de vinte reais cada!
LdB são bonitos, baratos, uns não precisam de traduções, outros são de traduções confiáveis. Claro que tem uns que são de tradução duvidosa, e que precisam de leituras bem próximas da dita pelo autor. Mas, sendo assim, aprenda a língua do indivíduo e vá ler do jeito que ele escreveu!


CA Ribeiro Neto
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* Primeira quinzena de 2011 indo e a média de 2010 já não se manteve, mas ainda há 350 dias para se reabilitar!
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Erva Rasteira - Luiz Gonzaga

LENDO NO MOMENTO: João do Rio (biografia) pg. 30 // Dom Casmurro e os discos voadores - Machado de Assis e Lucio Manfredi - cap. 87.

Boa Sorte

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Belém, sob o olhar cearense

Camila Travassos me desafiou a ela fazer um texto sobre Fortaleza e eu fazer um sobre Belém do Pará, um sem conhecer a terra do outro. Eis a minha parte do desafio, cliquem no nome dela e vejam a parte dela.


Belém, sob o olhar cearense



Assim como José de Alencar escreveu O Gaúcho sem nunca ter ido aos pampas, escreverei sobre Belém do Pará sem nunca ter chegado nem no Piauí. A segunda maior cidade da Região Norte, ela disputa pau-à-pau com Manaus e ganha de goleada das outras capitais e municípios.
Antes da invasão luso-hispânica, a região era dominada por índios (óbvio) tupinambás, mas o enamoramento mesmo foi com os portugueses, tanto que, na vinda dos Família Real Portuguesa ao Brasil, ela foi sugerida para ser a nova capital brasileira e também a cidade só reconheceu a Proclamação da República quase um ano depois dela ter sido imposta.
A cidade já teve alguns nomes, como o maroto Feliz Lusitânia, mas vamos lá, chamar a cidade de Belém, num país super católico, já é meio audacioso; mas daí a ter um bairro chamado Nazaré é se achar a última coca-cola do deserto. Só não me digam quantos Jesus moram nesse lugar...
Aliás, deserto é só o que não tem por lá, já refrigerante, é vendido num saquinho. Tudo bem que fontes fidedignas me contaram isso, mas eu não consigo imaginar alguém segurando tranquilamente um saco cheio de refri e um pacote de xilito ao mesmo tempo. Principalmente quando estiver acabando, sabe, o plástico se encolhendo todo, não deve ser nada prático.
Já que comecei a falar da culinária regional, Belém tem a sua bem particular. Ontem tive o cuidado de experimentar um Tacacá, a mais típica e conhecida da região. Trata-se de uma cumbuca com goma de mandioca, tucupi (um liquido amarelo e forte), uma folha que deixa a língua tremendo e camarão. Acredito que a de lá seja muito boa, porque a que eu provei era boazinha e a minha amiga paraense presente não aprovou o que tomamos. Fato é que, assim como o refrigerante no saco, só valerá a experimentação quando eu for lá mesmo.
Ainda sobre comida, existe nas vendas de lá dois tipos de manga: a manga normal e a de cemitério. Tem mangueira lá por todo canto. E nas do cemitério, que tem muita vida exalada pelos mortos, acabam produzindo uma manga maior e mais saborosa. Evidentemente essa é mais cara, mas deve valer a pena. Nada como água para limpar mãos e bocas lambuzadas.
Até porque, água é com eles mesmo. Primeiro de tudo porque Belém, assim como quase tudo que é cidade do Brasil, é banhada por rio, no caso deles, o Rio Guamá. Segundo, porque lá chove todo dia santo e todo santo dia! (sonho!) E o que é melhor, por volta das duas horas da tarde: na hora da sesta! Só isso faz de Cidade Morena a melhor cidade do mundo, depois de Fortaleza, é claro.
Curioso nesse desafio é que há uma relação de apelido com Fortaleza: as duas foram chamadas de Paris brasileira, devido à arquitetura vinda de lá, cafés, frescuragem em geral.
Escritor paraense, o único que conheço é Inglês de Sousa, e dele estou lendo agora o Contos Amazônicos, que conta causos da região, de uma forma bem curiosa: misturando folclore com um olhar meio cético, tipicamente a mistura de um apaixonado pela cultura de sua terra e de um advogado com sua visão sóbria. Mas ele tem dois romances muito importantes para a literatura brasileira, que o transformou num dos fundadores do Realismo/Simbolismo no Brasil – junto com um cearense, o Domingos Olímpio!
Antes de finalizar, uma dúvida que não quer calar: como pode a maior rivalidade futebolística de um local ter, nos dois times – Remo de azul escuro e Paysandu de azul claro – , a mesma cor, divergindo apenas a tonalidade do azul?
Bem, um dia irei à Belém do Pará, conhecerei muitos Jesus de Nazaré, tomarei refrigerante no saco, tomarei tacacá, comerei manga de cemitério, tomarei banho na chuva das 14hs, lerei mais Inglês de Sousa e irei a um Re-Pa e, principalmente, descobrirei que nada do que mencionei é real e me darão um sabacu por lá.


CA Ribeiro Neto
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* Estou sempre esperando desafios como esse! Pode tacar nos peito do nego!
* 2011 tem que manter a média de 2010, vamos lá, né, Destino?
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ESCUTANDO NO MOMENTO: O sangue não nega - Luis Melodia
LENDO NO MOMENTO: Contos Amazônicos - Inglês de Sousa - pg. 68 // Dom Casmurro e os discos voadores - Machado de Assis e Lucio Manfredi - cap.71.

Boa Sorte