A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

terça-feira, 9 de abril de 2013


O voo


Quanto mais alto é o voo,
Mais forte é a queda.
Sim, mas se não sofro de enjoo,
Não tenho medo de cair de testa,
Se não sei bem para onde vou,
A visão de cima parece ser a mais certa.
Se o vento na cara me acariciou,
Que nem cachorro na cestinha da bicicleta,
É porque somente o que me restou,
Foi bater minhas asas para longe do que me resta.


Quanto mais longe é o meu destino,
Mais demorada é a minha chegada.
Mas se eu ainda sou um menino,
O relógio pode ser solidário com a minha estrada.
Se ao piar alto, eu desafino,
Melhor manter minha boca calada.
O silêncio é um companheiro franzino,
Mas cresce com a minha cara amedrontada,
Ele adora se fazer de santinho,
Mas vira monstro na solidão da casa.


Quanto mais fria e baixa é a solidão,
Mais na gente ela se enrola.
E em dia de chuva, raio e trovão,
Que nem avião, quem voa, não decola.
É o momento de ter atenção,
Ser um malandro menino, um traquino criançola
Fazer um voo esquivo, um desvio de prontidão
E fazer desse caminho um aprendizado de escola:
Não deixar as asas molhadas pesarem para o chão,
E fugir como puder da armadilha e da gaiola.


CA Ribeiro Neto