A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 31 de março de 2011

Serenata Interrompida

Terminei hoje um texto que havia começado há uns dois anos. Saiu bem melhor do que se eu tivesse escrito naquela época!




Serenata interrompida



Fábio vacilou com a Karine. Traiu-a, foi visto, chegou atrasado no dia que foi argumentar alguma defesa e ainda deu um murro no cara que o denunciou. Então, para tentar reconquistá-la, só restava apelar para as cansadas atitudes 'romantiquinhas': fazer uma serenata.
O pelotão foi formado pelos amigos que sabiam tocar alguma coisa: Juninho no violão, André na flauta e Gabriel na meia-lua. Prometeu uma garrafa de pinga para os músicos e, o maior erro, deu-a antes do cortejo. Dizem as más línguas que eles já vinham melados de um boteco qualquer, receberam o bendito litro de Fábio e rumaram, bebendo, para a casa da donzela.
Antes de chegar à residência objetivada, eles já estavam falando aos berros, chamando a atenção de quem dormia. Já passava de meia-noite e quem não dormia, no mínimo, queria silêncio.
Em frente à casa da moça, o mais próximo possível da janela dela, prepararam-se para tocar, quando chega um vizinho, rapidamente.
- Ô Fabão! Faça isso não, macho!
- Que é isso, Arthur! Eu amo essa mulher, cara! Preciso dela novamente comigo!
- Fábio, tu já se perguntou sobre esse carro aqui na frente? O carro tá em frente a garagem da casa da tua ex-namorada.
- Não, macho! Ela tá com raiva de mim, mas ainda me ama, não tem outro cara com ela lá não...
- Bem, se eu fosse você não arriscaria.

Fábio e sua reca então decidiram ir embora, André começou a tocar “Lembranças”, de Nélson Cavaquinho, e sumiram da vista do vizinho solidário.

***

Meia-hora depois, o alarme antirroubo do carro estacionado na frente da casa de Karine é acionado por uma garrafa vazia de cachaça jogada no capô. Entre o som do alarme estridente e o barulho do litro se quebrando, ouve-se a correria e a gritaria de quatro bêbados vândalos. O dono do carro, que estava bebendo num bar lá perto, estava muito bêbado para correr atrás dos meliantes, olhou para seu carro, desligou o alarme com o controle e tomou mais uma dose.
Arthur, olhando pela veneziana da janela da frente, comemora intimamente por ter evitado a reconciliação do ex-casal. Agora, julga ele, terá mais chance com Karine, seu amor de infância.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Carne Negra - Seu Jorge e Farofa Carioca
LENDO NO MOMENTO: Luzia-Homem - Domingos Olímpio - Terminado / As Religiões no Rio - João do Rio - pg. 1 / Amor a céu aberto - Flora Figueiredo - Pg. 30.

Boa Sorte

quinta-feira, 24 de março de 2011

Poesia piegas relacionando a vida com a matemática

Bem, o título explica tudo que é essa poesia. Sei exatamente que amanhã eu vou ler isso e vou me arrepender de tê-la escrito e ainda irei taxá-la de meu pior texto. Nunca me aproximei tanto da autoajuda. Mas no momento era o que eu queria dizer, então pronto, foi!

Poesia piegas relacionando a vida com a matemática


Se as pessoas aplicassem em suas vidas
que a felicidade é o montante a ser seguido,
Elas entenderiam que,
independente do teorema utilizado,
o resultado do problema é sempre o mesmo.
A vida é cheia de cobranças, eu sei.
Mas tanto a vingança como a recompensa vêm com juros
e correção monetária.

CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Alento - Paulinho da Viola

LENDO NO MOMENTO: Luzia-Homem - Domingos Olímpio - Pg.87 / Amor a céu aberto - Flora Figueiredo - Pg. 28.


Boa Sorte

sábado, 19 de março de 2011

Versos de uma noite

A semana já estava fadada a não ter postagem, quando um grupo de amigos escritores salvaram este blog. Num bar chamado Dona Chica, na Av. da Universidade, entre cervejas e caipirinhas, ao som de sambas e mais sambas, fizemos estes dois poemas que apresento-lhes agora; um feito por mim, Zé Neto, Thiago César e Divino (título) e outro feito pela Tainan Fernandes (o que realmente prestou disso tudo).


Em

Se você soubesse
o que acontece
nos quartos de  quem anoitece,
nos quartos de quem padece,
saberia que a mente não obedece
o que uma noite interfere,
saberia que eu no quarto 'encandesce'.
Não duvide que outro sua vida entristece.


CA Ribeiro Neto; Zé Neto; Thiago César; Divino

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Se o beijo acontecesse
Se a vontade se firmasse
Se o desejo aparecesse
E se o amor se abismasse

Teria tudo acontecido
ou haveria tudo sumido
no embalo do sopro do vento do desejo?

Aconteceria o mesmo que o real cortejo?
Do bem-querer, o famoso estampido?
O 'nós dóis' haveria o tempo de ter querido?



Tainan Fernandes

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LENDO NO MOMENTO: Luzia-Homem - Domingos Olímpio - Pg. 20 / Um livro da Flora Figueiredo que eu não lembro o título, nem a página, mas eu juro que está muito bom! [já li 6 livros nesse ano!]

ESCUTANDO NO MOMENTO: Argumento - Paulinho da Viola


Boa Sorte

quinta-feira, 10 de março de 2011

Biografia sambada de um coração palhaço

Para finalizar o carnaval com chave de ouro - e muita cinza, também - uma crônica bem pessoal, cantada por muitos outros sambistas.



Biografia sambada de um coração palhaço



Meu coração frequentemente parece um choro do Pixinguinha. Frenético e melancólico como só meu coração e um choro de Pixinguinha sabem ser. A batida não pode parar, a velocidade é que muda, e muda bastante. É bandolim e flauta doce adocicando a caipirinha que é a minha vida. É tanto repique e tanto pandeiro cadenciando e descadenciando, pois são demais os perigos dessa vida.
Não sei vocês, mas parece que estou me guardando para quando o carnaval chegar e chorando, eu vi a mocidade perdida. Deixei a festa acabar, deixei o barco correr, deixei o dia raiar. Tão paradoxal quanto o amor de um bêbado com uma equilibrista, na minha caixa torácica de zinco, sem telhado, sem pintura, aguardo o juízo final. Afinal, o sol há de brilhar mais uma vez.
Sei que ainda é cedo e mal comecei a conhecer a vida, mas se quiser ser como eu, também terá que penar um bocado. Minha vida não é melhor nem pior do que a de ninguém. Minha busca sempre foi morar nos braços da paz, ignorando o passado que hoje muita coisa me trás. De lembrança, guardo somente suas meias e seus sapatos, coração, mas sem precisar excluir nada de minha vida – felicidade não precisa de culpa.
Existiria, assim, verdade? Só a verdade que ninguém vê: ao som desse bolero, vida, vamos nós! Vida!, descobri sem querer, Verdade!
Eu não sei porque choras, coração palhaço; desse jeito, diz a razão, colherá sempre tempestade. Infelizmente, mesmo, ninguém entenderia um samba naquela hora.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: A Sorrir (O sol nascerá) - Ney Matogrosso

LENDO NO MOMENTO: Meio intelectual, meio de esquerda - Antonio Prata - pg. 42 / Não contem com o fim dos livros - Eco e Carriere - pg 59 / Dom Casmurro e os Discos Voadores - Machado de Assis e Lucio Manfredi - cap. 122.

Boa Sorte.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Encantar-se

Uma crônica pequena, que eu decidi escrevê-la no ônibus entre o trabalho e minha casa. Pequena, não por falta de vontade de escrever, mas por ter esgotado tudo que eu tinha para dizer sobre o assunto. Um bom carnaval a todos.



Encantar-se



Vivo de encantar-me, a todo momento, e acredito que não sou o único por aí. Encantar-se por várias coisas e vários motivos impulsionam a vida, é lenha, é carvão. O encantamento pode ser por admiração, por respeito, pela vida e obra de alguém, pelo momento rápido de um simples desconhecido. Ele aparece sempre que sua sensibilidade é tocada de alguma forma.
Daí, já é de se presumir que é preciso estar apto a encantar-se. O objeto encantador não atinge a todos igualitariamente; pode ser indiferente para uns, avassalador para outros. E em outro momento as consequências podem ser inversas.
Há quem se encante tanto e tão facilmente, que criam superstições, que amam intensamente seres/objetos rapidamente. Não sei se vocês já passaram por isso, mas há aquele CD especial, da banda/artista especial, que a cada música que toca você a nomeia sua preferida. A última, então, levará vantagem!
Mas, sim, você pode encantar-se por várias pessoas. Tem as que você acaba de conhecer e já viram grandes amigos; tem as que você conhece há um tempão, mas só depois se encanta. Há aqueles que você só passa a se encantar, ou a encantar-se mais, quando conhece suas dores; e há aqueles que basta um olhar, uma roçar de pele, um sorriso cúmplice.
Encantar-se é decidir se vai dá uma esmola àquele pedinte ou não; se vai paquerar aquela gatinha ou não; se vai emocionar com a notícia de terceiro ou não.
Encantar-se não é amar, mas também não a exclui. Encantar-se é querer bem; é estar próximo e totalmente distante da inveja.
Aliás, a inveja não é seu oposto porque os dois tem a mesma fonte: o próximo. Mas a inveja é querer ser o outro, tomar o que é do outro. Encantar-se é de direita, é tradicional, é querer que tudo fique bonito como está.
Mas o encantamento é atemporal. Ele pode ser efêmero, fugir de nossas mãos – ou de nossas mentes –, assim como ele também pode ser eterno, durar anos, meses, dias. Essas delimitações humanas não servem para os sentimentos, e consequentemente, ao encantamento. Um encantamento de um dia pode ser eterno para mim, posto que também é chama.



CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Peito Vazio - Cartola - cantado por Ney Matogrosso.
LENDO NO MOMENTO: A alma encantadora das ruas - João do Rio - pg. 237 / Não contem com o fim dos livros - Eco e Carriere - pg 59 / Dom Casmurro e os Discos Voadores - Machado de Assis e Lucio Manfredi - cap. 120.

Boa Sorte