Bem, encerrando, por enquanto, a série 'O Recado está dado', 'O Coelhor que perdeu da Tartaruga e o Tigre' é uma fábula que demorei quase 3 anos para terminar. Iniciado em 2007, acredito que perceberam no próprio texto o que foi escrito naquela época e qual foi escrito no final de 2009. Eu até tentei explicitar uma moral da história, mas prefiro que cada um retire a sua!
O Coelho que perdeu da Tartaruga e o Tigre.
Depois de perder para a Tartaruga na corrida, o Coelho foi, cabisbaixo, para sua toca. No meio do caminho, encontrou o Tirano Tigre que, na falta de um leão, se tornou Rei. Muito ironicamente ele falou para o Coelho:
- Oh, pobre Coelho! Toda a floresta já sabe do seu desespero!
- Ora, deixe-me sozinho! Pior que perder é escutar tantos cochichos!
- Veja como fala comigo! Lembre-se de quem sou, não seja cínico!
- Espero que me compreenda, mas vou me retirar. Com sua licença...
- Antes de se despedir, eu também lhe desafio, para que que agora perca de mim!
- Quem sou eu para disputar com tão ilustre realeza? Não vou ganhar, disso eu tenho certeza...
- Não aceito um não como resposta. Você deve ter é gratidão por essa minha proposta! Partiremos do Vale do Algodão, passaremos pela Encosta do Rio Mangueirão e a reta final será num canto que jamais esquecerão: o Precipício do Antigo Leão; quem não cair, será o campeão!
- Já que não tenho escolha, vou me preparar com minha amiga raposa. Até qualquer dia, Vossa Senhoria!
- Nada disso, Coelho gaiato, antes de ir embora, assine este contrato. Com sua via, chegue aqui amanhã, por volta do meio-dia, pois quero lhe deixar logo como um rato ou quem sabe uma cotia!
De contrato em punho, o Coelho correu para pensar o que faria.
No dia seguinte, no horário combinado, lá estava o Tirano Tigre preparado, quando o Coelho chegou, meio ressabiado, e foi logo cumprimentar seu adversário:
- Boa tarde, Vossa Realeza, por um acaso o senhor não deseja que eu desista logo, encerrando, assim, este diálogo?
- Claro que não, seu molenga! Alongue-se logo para que não tenha nenhum problema!
- Pois não, Vossa Tigresia! Já tive tremelique, asia, até uma disenteria, por isso acredito que o meu organismo já está preparadíssimo!
- Que assim seja, vamos ao ponto de largada, como choveu um bocado hoje, a estrada está enlameada, então, cuidado com as derrapadas! (quando o Tirano Tigre dá uma grande gargalhada).
O Tirano Tigre era arrogante, mas não era burro, sabia que o Coelho perdeu para Tartaruga, mas não deixou de ser rápido. O rei fajuto também era, mas como ele não queria arriscar, mandou complicar o percurso para garantir a vitória e depois só comemorar.
A coruja foi a convidada de honra para acionar a sirene de largada, então os dois partiram, com uma certa vantagem para o Coelho. Ainda no Vale do Algodão, o Coelho ficou encoberto no meio da plantação e não percebeu a teia de aranha reforçada que o Tirano Tigre mandou colocar para enlaçá-lo. Caiu na teia quando o grande felino pula por cima dele e toma a liderança.
Sem conseguir sair, acabou recebendo a ajuda de sua amiga raposa que, esperta, já imaginava as maracutaias que o Tigre iria aprontar:
- Amigo Coelho, eu já imaginava que esse Tigre não receberia bons conselhos! Vou salvar-te desse novelo para que ganhes essa corrida com zelo!
- Obrigado, amiga raposa, serei eternamente grato por vossa nobreza! É certo que sua esperteza não é sinônimo de safadeza, sua honestidade é tesa!
Então, Coelho correu o mais rápido que pôde para recuperar a desvantagem que tinha do Tirano Tigre. Nas proximidades do Rio Mangueirão, o Tirano passou a correr mais vagarosamente, com medo de cair dentro d'água, seu trauma de infância.
Com isso, o Coelho conseguiu se aproximar até chegar a ponto de ultrapassá-lo, quando mais um truque do Tigre foi acionado: o Coelho foi desequilibrado por um vôo baixo do corvo, assessor particular do rei, o que fez a lebre cair dentro do rio.
Como o Coelho não sabia nadar, ficou a se espernear dentro d'água, quando alguém inesperado emergiu das águas doces do Mangueirão: a Tartaruga campeã socorreu seu antigo adversário, pois este não merecia perder dessa forma. Em meio à tosses, o Coelho agradeceu:
- Oh, Tartaruga, muito obrigado, saiba que aprendi muito com o recado que em nossa corrida me foi dado.
- Por nada, Coelho, mas ande, corra sem demora, não vá deixar agora que aquele déspota consiga a glória!
Então, o Coelho retomou a corrida que já se despontava ao fim. O Tigre já pousando soberano, desfilava numa alegria terrível. Quando todos lá trás gritavam a aproximação do Coelho, o Tirano se enfezou e correu como pôde para terminar de vez a corrida. Correu tanto e tão ferozmente que, não conseguiu parar a tempo de cair no Precipício do Antigo Leão. Logo depois chegou o Coelho, que não se aperreou e freou sua chegada sem acabar com sua vida. O Precipício que antes tinha o nome de um rei, agora se chama o Precipício Dos Que Se Proclamam Rei.
O Coelho, que não comemorou em respeito ao incidente, se afastou com os amigos alegres e contentes; aproveitando para discutir a eleição da Raposa para Presidente.
CA Ribeiro Neto
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* PC sem HD, é bem mais complicado! Sorte a minha que Linux roda apenas com o cd de instação...* Sem mais.----------------------------------------ESCUTANDO NO MOMENTO:
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Almanaque Armorial - Ariano Suassuna - Pg. 85.Boa Sorte