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Sabrina estava abismada. Seu último namoro terminou à sete meses e ela continuava triste e só. Não se sabe ao certo se ela não estava com sorte ou eram consequências do auto-isolamento, mas o fato era que estava carente e não estava fazendo esforço nenhum para reverter o quadro.
Certa vez, ela escutou um amigo dizer que é ótimo o ambiente de aeroportos. Seja na alegria ou na tristeza, das saídas e chegadas; seja na saúde ou na doença, dos passeios ou dos imprevistos. No aeroporto, ou você chora, ou é solidário às lágrimas dos outros.
Sem falar que Sabrina não tem conhecidos com o costume de viajar de avião. Então, seria o lugar prefeito para não encontrar ninguém.
Ela foi ao aeroporto afim de ver pessoas e imaginar suas histórias. Se gostasse, escrevia, se não, olhava para outra pessoa (ela sempre anda com um caderninho).
Chegou, foi à praça de alimentação, pediu um café (desistiu de comer depois que examinou os preços) e começou.
“Aquele cara de terno e gravata, falando aperreado ao celular, mas tomando cuidado para não ser escutado... tem cara de vereador que está sendo investigado por corrupção. Conversando com assessores e medindo as palavras devido à quebra de sigilo telefônico... essa história já está trivial, acontece sempre...”.
Continua. “Aquele bebezinho, no colo de sua mãe, recebe o que pode ser o último beijo do pai, que se despede. Quem sabe seus 'dias dos pais' serão tristonhos. Quem sabe a mãe dele se junta com um ótimo padrasto. Qual escrevo? A história boa ou a ruim? Melhor não escrever...”.
Próxima pessoa. “ Aquele rapaz, que parece muito com o Caio, meu ex... do lado daquela mulher, que parece minha ex-sogra e aquela turma, que parece muito com os amigos do meu ex e que, inclusive, estão apontando para mim.
Um dos pontos positivos do aeroporto deu errado. Realmente era o Caio, a ex-sogra (que tentou segura-lo para que não fosse até ela...), e a velha turma. Ele, sozinho, se aproxima de Sabrina e começa a conversa.
- Veio se despedir de mim também?
- Para Espanha. Fazer pós-graduação em Adm. de Agronegócio.
- Legal! Boa sorte!
- Olha, eu já vou! Meu embarque é agora! Tchau.
- Tchau! Boa sorte!
Sabrina estava abismada. Ele se formou, e ela não sabia. Ia viajar, e ela não sabia. E o pior, tinha umas garotas que estava com a turma, que ela não sabia quem eram!
Tomou o último gole do café e começou a chorar. Mais foi tempo chorando soluçadamente até que o garçom lhe trouxe outra xícara de café sem ela pedir. Na hora, ela nem se tocou, bebeu mesmo e junto com a calma, chegou a pergunta. Quem pediu esse café? Sabrina chamou o garçom.
- Desculpe, mas eu não tinha pedido esse café.
- Nós sabemos, Senhorita. Foi cortesia da casa!
- Ah sim! Mas eu faço questão de pagar. Me dê a conta com os dois cafezinhos, por favor!
- Pois não! - Ele pegou um recibo, escreveu “seu telefone” e entregou-na.
- Desculpe, mas eu não entendi.
- É a única coisa que quero pelos cafés!
- Ah não! Está aqui o dinheiro, eu fiz as contas de cabeça. - e entregou o dinheiro.
- Então o telefone pode ser como gorjeta?
Sabrina estava abismada. Pegou o papel e anotou seu número de celular e seu nome. Ele agradeceu e se retirou. Antes que ela fosse embora do aeroporto, ela recebeu uma mensagem que diz assim.
“Esqueceu o seu troco, está aqui: - número - Daniel. Espero não ter lhe deixado abismada, mas é que não gostei de lhe conhecer triste e só. Podemos nos conhecer de novo?”
Dispenso final.
Carlinhos Ribeiro
* Novidade nenhuma não!
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Tiro de Misericórdia - João Bosco
Boa Sorte