A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mundo abstrato

Dando sequência à série 'Diferentes ângulos de uma conquista', a poesia 'Mundo abstrato' é mais uma poesia do meu pseudônimo feminino Magali do Riacho. Mulheres, por favor, digam-me se está um pouco parecido com o que uma mulher diria!


Mundo abstrato


Não convém dizer agora
Tudo que o mundo afora
Já soube antes de mim.

Se dizem que meus olhos
Revelam meu amor óbvio,
Porque vou me repetir?

Desculpa se estou tão direta,
Encurtando assim essa conversa,
Mas a ansiedade me apavora.

Não estou pedindo ou covocando a algo,
Só quero deixá-nos habituados
Ao rumo dessa história.

Gosto de ti, isto é um fato,
Um tanto quanto abstrato,
Ou de difícil compreensão.

Encerro aqui o meu discurso,
Você tem todo o tempo do mundo
Pra entender essa bagunça. Ou não.


Magali do Riacho (CA Ribeiro Neto)
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* Na foto de capa do blog, mais uma vez, Raíssa Ribeiro.
* Próxima terça, meu aniversário - 24 anos!
* Tudo normal.
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Inclassificáveis - Ney Mato-grosso

LENDO NO MOMENTO: O Cemitérios dos Vivos - Lima Barreto - pg. 123

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Gentilezas à parte

Iniciando mais uma série "Diferentes ângulos de uma conquista", posto uma poesia de eu-lírico masculino, do Wallace Lago, que é a "Gentilezas à parte". A poesia trata de uma tentativa de conquista dentro do ônibus. Dá sequencia à essa série a poesia "Mundo Abstrato", do meu pseudônimo Magali do Riacho e o conto "Jairo e Flor".

Gentilezas à parte

Pode sentar-se!
Um cavalheiro não pode
Deixar uma dama em pé
Quando um acento lhe vem à sorte

Levar meus livros?
Quanta gentileza
De uma dama jovial
De indescritível beleza

Obrigado pela delicadeza
De segurar meus livros
Mas quero que perceba
Assim, em sigilo
Que dentro da minha agenda
Há um papel que tem escrito
Um número pra telefonema
pro meu aparelho fixo

Pegue e guarde consigo
O que tento te passar
Assim, saberemos se eu consigo
Te decifrar
Se não deu, eu desisto
Pode me devorar!

Wallace Lago
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* Desde já, adiando que interromperei a série, para fazer alguma homenagem ao meu próprio aniversário, que será no dia 28 desse mês.
* Grupo Eufonia, toda terça, as 19:10!
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Rugas - Nelson Cavaquinho

LENDO NO MOMENTO: Cemitérios dos Vivos - Lima Barreto - pg. 66 / A História da Riqueza do Homem - Huberman - pg. 24 (Antes que pensei que não li esse, da semana passada para essa, antes eu estava no prefácio, e agora estou no livro mesmo!)

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Miranda e a morena da janela

Encerrando a série 'Tudo ao meu redor', conto a história de Miranda, um colega meu, que aqui se torna personagem para contar uma história bem curiosa do quanto nos preocupamos com o que os outros pensam de nós, mesmo sem saber o verdadeiro ponto de vista dos tais 'outros'.



Miranda e a morena da janela



Certa vez um amigo meu me contou uma história que achei curiosa por demais; daí, aproveitei a ocasião e pedi permissão para transformar livremente a história dele em crônica – como sempre.
Falo de Miranda, um amigo que trabalha na UFC e que, infelizmente tem paralisia nos membros inferiores. Ele é um cara bem comunicativo, brincalhão e tem uma voz bem imponente, bonita, que aposto que faz muito sucesso com as mulheres.
O caso aconteceu quando ele era mais jovem, no seu tempo de universitário, num momento em que ele estava em um bar, com os amigos, tomando umas cervejas. Em determinado momento ele percebe que havia uma garota debruçada na janela de uma casa próxima ao bar a encará-lo.
Então, ele passa a retribuir a paquera, admirando-na a pele morena, os cabelos negros presos no estilo rabo de cavalo e o pouco de decote que podia ser exposto naquele tempo. Entre sorrisos e olhares trocados, eles ficaram a conversar assim, sem palavras.
Como ele estava na cerveja, o efeito diurético da bebida começou a incomodar. Miranda ficou naquela de que, quanto mais tempo demorar para se aliviar, mais o incômodo aumentaria, além do que, invariavelmente pensa-se mais na questão, o que evidencia mais o problema, piorando a situação. Porque ele simplesmente não ia ao banheiro? Porque se ele se levantasse, mostraria sua deficiência e o uso das moletas, o que geralmente findaria o interesse da moça da janela.
Em certo momento, ele abstraiu-se do mundo ao seu redor para pensar numa alternativa segura para o caso, até que percebeu que não podia esperar mais muito tempo. Olhou para a janela da moça e atinou-se que ela não estava mais lá. Correu, apesar das circunstâncias, o mais rápido que pôde, ao banheiro e aliviou-se da necessidade fisiológica.
Ao sair do interior do bar, olhou logo para a janela da moça, na expectativa de que a morena não tenha voltado ainda ao posto de antes.
De fato, ela não estava mais na janela. Ela estava agora na calçada de sua casa, curiosamente também amparada por moletas. Miranda percebeu que pelo mesmo motivo que ele não queria se levantar da cadeira, ela usava a janela de camuflagem e que, sem defesas, sorriam-se e olhavam-se, agora harmoniosamente.
Miranda não tinha mais escolha. Agora tinha que se aproximar e se municiar com sua imponente voz.


CA Ribeiro Neto
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* Tudo relax! Tudo tranquila! Numa boa!
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Mambembe - Chico, Nara e Bethania.

LENDO NO MOMENTO: Os Lusiadas - Camões - pg. 284 (Desisti dele, está muito chato!) / Cemitério dos Vivos - Lima Barreto - pg. 22 (Estou no comecinho mas já está fantástico) / A História da Riqueza do Homem - Huberman - Pg. 17 (Lendo também, devido ao Amigo Secreto Literário da Livraria Cultura)

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Respeitem meus cabelos

Mais um texto da série 'Tudo ao meu redor', 'Respeitem meus cabelos' é uma crônica que trata da experiência de um senhor na terceira idade. Tento utilizar um vocabulário um pouco mais rebuscado, para ambientar o narrador-personagem, e também, para ironizar o padrão visto por aí.




Respeitem meus cabelos



Como as pirâmides etárias esboçam, principalmente em países subdesenvolvidos, a velhice é para poucos. Não só porque é natural que alguns faleçam pela estrada da vida, mas também porque é imprescindível um bom estado de espírito para conviver com as vicissitudes que, por mais extraordinário que pareça, podemos considerar como novidade.
Recordo-me quando, ainda adulto, tingi os cabelos alvos para disfarçá-los, já em porção considerável. Foi uma experiência somente para me arrepender; só não esqueci mesmo para não correr o risco de cometer o mesmo pecado novamente. Quem me conhecia fez traquinagens de tudo quando é jeito, algumas até de cunho sexual; e quem não me conhecia olhava-me de modo desdenhoso, como se houvesse algo de errado em mim. Em poucas horas percebi que antes assemelhar-se a um velho do que a alguém não natural.
Dediquei-me, então, a deixá-los bonitos. Talvez seja coincidência, mas nesse mesmo período o meu cabelo esbranqueceu-se de vez. Meus alunos, nas aulas de matemática, até galhofavam com isso, mas como nunca foi muito vaidoso, não me incomodei e continuei a cultivar meus cachos de algodão.
Só fui perceber mesmo as consequências da mudança de coloração, quando, num período de provas do colégio, eu estava tão cansado que me permiti deixar a barba por fazer, saí com uma camisa amassada, um jornal embaixo do braço e fui pagar umas contas numa farmácia. Logo que chego, vou compor o final da fila, já bem extensa. Daí, deparo-me com algumas pessoas me olhando até que uma bela jovem dirigi-se a mim, recomendando-me que vá para a fila dos idosos. Não soube bem o que dizer na hora, mas como estava com pressa e os olhos dos demais presentes eram de comum acordo, fui para a fila alternativa. Por sinal, acabei descobrindo que as filas dos preferenciais demoram mais, sem que, com isso, torne-se menos compensatória. Parece-me que há a cultura dos velhinhos pagarem sempre as contas de várias casas, o que, em minha mente, conjecturo como antiético.
Pois bem, como toda mudança etária – aos 12, 18, 30 e 65 anos – não acontece de uma hora para outra, ainda não estava me sentindo um velho, até que precisei pegar um ônibus. Ainda na parada de ônibus, estava a lembrar de minha juventude – talvez isso seja característica da velhice – e dos muitos ônibus que peguei; inclusive da vez que, de tão acostumado a ir em pé e os outros segurarem meus livros, numa das únicas vezes que pude sentar-me, segurei a pasta de uma moça e quando fui me levantar para descer, eu quem disse “obrigado” ao invés dela – mau educada –, que me olhava como se prendesse uma gargalhada.
Mas, enfim, subi. Já começou estranho porque eu sabia que iria subir pela porta da frente, mas não imaginava que o motorista fosse se atinar a isso e que ele pararia a porta dianteira logo a minha frente. Eu nem precisava mostrar a carteira de aposentado se não quisesse, mas fi-lo por orgulho.
Logo depois, uma mãe obriga o filho a levantar-se de seu assento para que eu possa seguir meu caminho confortavelmente e em segurança. Sinceramente, fiquei com a sensação de estar sendo inconveniente, sentei, sentindo-me meio culpado, até que veio uma frase em minha mente:

Estou velho.

Com isso, a culpa sumiu, mas não por isso fiquei tranquilo. Assim como a mudança etária, assumir a terceira idade também leva tempo – que é o que menos temos no momento. De qualquer modo, sábado tem baile da Associação.


CA Ribeiro Neto
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* Tudo em paz!
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Incelença - Nara Leão, Zé Keti e João do Vale - Show Opinião

LENDO NO MOMENTO: Os Lusiadas - Camões - pg. 234

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim.