A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Caminhador

Na foto-título da semana: Maria Pinheiro

Antes de conseguir publicar um livro, invento de projetar um segundo, de poesias, com o título provisório de "Como é triste um choro contido". Segue agora a última poesia que fiz e que fará parte do livro citado.


Caminhador


Se não ando com ela ao lado,
Só ando calado
Sou um caminhador.

Sonho viver, em você, colado.
Mas eu ando só,
Sou um, com a minha dor.

CA Ribeiro Neto

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ESCUTANDO NO MOMENTO: O Último Bloco - Clara Nunes

LENDO NO MOMENTO: O que os chineses não comem - Xinran - concluído || O Cravo Roxo do Diabo - org. Pedro Salgueiro - pg. 56.




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@caribeironeto

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A leveza do ser, pelo insustentável Milan Kundera

Depois de um bom tempo distante do blog, retomo-o cauteloso, sem texto meu, apesar de que há planos novos, sim!

Segue agora um dos trechos que mais gostei do maravilhoso livro 'A Insustentável leveza do ser', de Milan Kundera.Os outros trechos que gostei irão para o meu twitter.


"Sentado na cama, olhava a mulher deitada a seu lado, que, dormindo, lhe apertava a mão. Sentia por ela um amor inexprimível. Nesse momento ela sem dúvida dormia um sono muito leve, porque abriu os olhos e olhou-o com ar espantado.


--- O que você está olhando - perguntou ela.


Sabia que não devia acordá-la, mas fazê-la adormecer. Tentou responder com palavras que fizessem nascer em seu pensamento a centelha de um novo sonho.


--- Estou olhando as estrelas - respondeu.

--- Não minta, você não está olhando as estrelas, está olhando para o chão.


--- É que estamos num avião, as estrelas estão abaixo de nós.

--- Ah, bom! - murmurou Tereza. Apertou com mais força a mão de Tomas e continuou a dormir. Tomas sabia que Tereza olhava pela janela de um avião que voava muito alto, por cima das estrelas."

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ESCUTANDO NO MOMENTO: Tempo Feliz - Martinália

LENDO NO MOMENTO: O que os chineses não comem - Xinran - pg. 81 || O Cravo Roxo do Diabo - org. Pedro Salgueiro - pg. 56.

 

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@caribeironeto


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A tristeza, por mim e por Neruda, um na prosa e outro na poesia

Acabei há pouco tempo a leitura do livro 'O Livro das Perguntas' de Pablo Neruda. Nem preciso dizer que recomendo este livro demais e segue aí alguns trechos que falam sobre a tristeza:


As lágrimas que choramos
esperam em pequenos lagos?

Ou serão rios invisíveis
que correm para a tristeza?

É verdade que a tristeza é larga
e estreita a melancolia?

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Agora, segue o link do meu texto que considero mais triste de todos [aqui]


CA Ribeiro Neto

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ESCUTANDO NO MOMENTO: Punto - Jovanotti
LENDO NO MOMENTO: O Livro das Perguntas - Pablo Neruda - concluído || A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera - pág. 83 || Releitura de A Alma Encantadora das Ruas - João do Rio - pág. 39 || O Cravo Roxo do Diabo - org. Pedro Salgueiro - pg. 56.


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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O Ceará urbano e a sociedade dissimulada de A Normalista de Adolfo Caminha



O Ceará urbano e a sociedade dissimulada de A Normalista de Adolfo Caminha



Terminar uma leitura com um nó na garganta, faltando poucos minutos para começar o expediente de trabalho não é legal. Mas se isso for necessário para se ler o livro A Normalista, de Adolfo Caminha, então, afirmo que todos devem sentir igualmente.
Primeiro conto o inusitado caso de como consegui esse exemplar. Eu fui de férias para Belém do Pará e uma das minhas programações era conhecer livrarias e sebos paraenses e comprar alguma coisa da literatura local. Não é que tal Estado não tenha bons escritores, mas não me agradei com o que encontrei. Mas, vasculhando bem por lá, encontrei um livro de um autor cearense que sempre tive vontade de ler, mas não oportunidade. Uma edição linda, capa dura, folhas amareladas, um pouco mofado, mas nada exagerado.
Além do fato de eu viajar vários quilômetros para comprar um livro paraense e acabar comprando um cearense, o que há de mais curioso é que no teor da história começa com uma relação entre os dois Estados: o livro conta a história da Maria do Carmo, uma adolescente que acompanhou o pai no êxodo, do interior para Fortaleza. Mas daí em diante, o pai resolveu tentar ganhar a vida em Belém, enquanto a moça ficou aos cuidados do padrinho João da Mata. Vejam como Adolfo Caminha coloca a comparação entre as duas cidades na voz de João:
A vida no Ceará não valia coisíssima alguma. O Pará, sim, aquilo é que é terra de fatura e de dinheiro. Um homem trabalhador e honesto como o compadre, com uma pouca de experiência, podia enricar da noite para o dia. Os seringais, conhecia os seringais? Eram uma mina da Califórnia. Tantos fossem quantos voltavam recheados, de mão no bolso e cabeça erguida. E o Ceará? Fome e miséria somente. Num mês morriam três mil pessoas, eram mortos a dar com o pé, morria gente até defronte do palácio do governo, uma lástima!” - A Normalista. Adolfo Caminha. Pág. 33

Já nessa primeira citação deu para notar o tom forte que são as palavras do autor. Em todo o livro ele é assim, não só critica o lugar, como a sociedade e os seus personagens.
É interessante ver um livro da época do Proclamação da República, no Ceará, em tom urbano, ainda que não modernizado. Algo infelizmente tão incomum na literatura cearense. E essa urbanização traz a característica, comum em tantas obras, de ser amada e odiada. O livro louva que a capital é melhor lugar que o interior, mesmo com
...esse tumultuar quotidiano de virtudes fingidas e vícios inconfessáveis, esse tropel de paixões desencontradas, isso que constitui, por assim dizer, a maior felicidade do gênero humano, esse acervo de mentiras galantes e torpezas dissimuladas, esse cortiço de vespas que se denomina – sociedade.” - A Normalista. Adolfo Caminha. Pág. 34

Os personagens são, cometendo injustiças: Maria do Carmo, a tal normalista, adolescente meiga, que morria de amores pelo namoradinho e era abusada pelo padrinho, detestava esse abuso, mas recorria a ele quando necessitava de algo; João da Mata, o padrinho sem escrúpulos que ficou obcecado por tirar a virgindade da afilhada; Zuza, o namoradinho da alta sociedade, que apesar de a amar, fugiu para Recife, evitando um casamento escandaloso por questões de status social; e os demais personagens também, todos, cheios de defeitos.
A história, apesar de não muito grande, é bem construída, ponderando-se sempre as questões pessoais e sociais de cada personagem. Um personagem é nobreza num dado contato pessoal e plebeu em outro.
Há passagens memoráveis no livro. O casamento da amiga, a morte e o enterro do presidente da província, os passeios escondidos do casal apaixonado, a cena principal, que é do João tirando-lhe a virgindade. Todas bem curiosas.
Sem falar de um final incrível, que para evitar revelar algo, mais levantar a curiosidade, menciono apenas que os contemporâneos do autor, e seus atuais leitores, como eu, devem todos terem se assustado com o que leram.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Jogador - João Bosco
LENDO NO MOMENTO: A Normalista - Adolfo Caminha - Concluído || O Livro das Perguntas - Pablo Neruda - pág. 38 || A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera - pág. 0 || O Cravo Roxo do Diabo - org. Pedro Salgueiro - pg. 27.




| Boa Sorte |

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A era Gil

Um texto que há muito tempo eu queria fazer.



A era Gil



Gil passava pelo mesmo corredor, novamente. Um último jogo da carreira, depois 20 anos de jogador profissional, foi o motivo de voltar ao clube onde tudo começou.

O presidente da agremiação foi buscá-lo em casa, com fortes seguranças e ao descer do carro, uma chuva de flaches fotográficos. Tudo tão diferente e ao mesmo tempo parecido com o seu começo. Tantas vezes tentou a peneira e tantos nãos recebidos, e sua mãe decidiu que só tentaria mais uma vez. No caminho da última peneira, seu ônibus, atrasado, encontra um manifestação de professores lutando por melhores salários, o motorista atropela um dos manifestantes e os mesmos brilhos fotográficos da imprensa. Podia ser seu pai, professor, atropelado.
 
Entrou na sede do clube e foi direto para a coletiva com os jornalistas. Lembrou-se então, que na última peneira, colete número 17, ele marcou três gols, mas não comemorou. O olheiro o chamou e perguntou sua idade. 16. já erá velho demais. Mas o presidente, o mesmo de hoje, gostou; logo, foi contratado.
Encontrou-se com os outros jogadores e, durante a preleção do técnico, professor, pediu para falar também. Emocionado, lembrou que futebol é um esporte coletivo e que ele não seria nada sem seus companheiros. Típico discurso de jogador de futebol. O que vinha na cabeça dele, na verdade, era que ele contou também com muita sorte ou a falta de sorte dos outros. Os outros centroavantes do sub-16 eram muito ruins, o camisa 9 titular e o substituto imediato estavam contundidos e então ele foi levado ao time principal por força do destino.
 
Em sua primeira partida ele estava no banco de reserva, camisa 17, de um time com 3 volantes e sem atacante de área. Como no primeiro tempo o time estava perdendo de 2 a 0, ele entrou no começo do segundo, na saída de um dos cabeças de área. Com dois pontas, um maestro, um volante de ligação e dois laterais medianos para lhe servir e mais um zagueiro meio manco no time adversário, ele fez mais 3 gols. Caiu nas graças da torcida.
 
Indo para o estádio, um pagode no fundo do ônibus. Fechou os olhos por um momento e lembrou do mundo que lhe apareceu depois daquele jogo. Festas, bebidas, mulheres. Por pouco não experimentou drogas, se não fosse pelo zagueiro Zé Luiz, um cherifão que lhe impediu no momento e que agora ele é inteiramente grato.
 
No vestiário, abraçou calorosamente o roupeiro do time, o mesmo que lhe deu a camisa 17 para vestir a vinte anos atrás. Olhou bem para ele e disse: “todo roupeiro de cada clube é sempre o maior torcedor de todos, mas você foi o primeiro que acreditou em mim. Entregou meu uniforme, segurou a minha mão e ordenou que eu me tornasse ídolo. Aqui estou eu para bater continência!”. O roupeiro chorou e molhou a nova camisa 17, a que ele usaria hoje.
 
Aquela camisa amarela e cinza, do Real Messejana, era especial. Já vestiu outras, nacionais, internacionais, da seleção brasileira, fora até apelidado na Itália como Impiedoso, mas a famosa “ouro e prata” era, para ele, a mais bonita. Correu para dentro do campo e escutou a torcida gritando novamente seu nome. Esperto, pediu antecipadamente que a imprensa não tivesse acesso ao campo; assim, sua despedida seria bem mais bonita. Percorreu todo o entorno do campo, acenando para a torcida que o aplaudia de pé.
 
Em seu último jogo, marcou 3 gols e saiu no meio do segundo tempo. Estava finalizada a era Gil. O impiedoso não deixou de agradecer a ninguém tudo que viveu e a todos que influenciaram para que a vida dele se encaminhasse ao que é hoje. Lembrou-se, então, quando lhe perguntaram o que iria fazer após se aposentar e ele respondeu: “Provar a vocês que continuo vivo”.

CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Um homem também chora - Gonzaguinha
LENDO NO MOMENTO: Orgulho e Preconceito - Jane Austen -  pg. 178 || A Normalista - Adolfo Caminha - pg. 168 || O Cravo Roxo do Diabo - org. Pedro Salgueiro - pg. 27. 



Boa Sorte ||

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Ana

Poesia antiga, sobre diferentes histórias, de diferentes Anas.

ANA

Fala Flor!
Lavra essa terra que agora é tua
Lava minha pele com tuas pétalas
E deixe que seu orvalho me reconstrua.

Chora Rosa!
Enforca essa mágoa em forma de dor
Esnoba a confiança que conquistara
Utiliza seus espinhos como defensor

Mima Margarida!
Me ensina a gostar da abelha
malícia verdadeira de viver
Só assim ela não me aperreia

Roga Hortência!
Penitência pelo pecado que cometi
Clemência é o que eu te peço
Até pelo que eu não fiz.

CA Ribeiro Neto

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ESCUTANDO NO MOMENTO: Pulsação Tropical - Gonzaguinha
LENDO NO MOMENTO: Tocaia Grande - Jorge Amado - Completo || Orgulho e Preconceito - Jane Austen - 123 || A Normalista - Adolfo Caminha - pg. 132. 


Boa Sorte || ApontArte
 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mistura-se dois vícios

Bem, continuando a minha saga brega, faço mais um conto adaptado de uma música. Desta vez vamos de Bartô Galeno e a música "No Toca-fita" [segue a letra e o vídeo da música aqui]




Mistura-se dois vícios



No toca-fita do meu carro, uma canção me faz lembrar você. A noite, que tantas vezes sorriu, minguante, para mim, hoje é triste, uma lua nova, como a dor que nunca tinha sentido antes. Cansado de beber sozinho, de escutar a alegria alheia, tinha resolvido ir para outro lugar, que não fosse a casa que guarda a cama que antes era nossa.

Entro no carro para depois pensar aonde ir, daí ligo o toca-fitas. Não me lembrei de nenhum canto legal para se curtir sozinho, minha diversão era conjunta, contigo. Tento me lembrar de algo que eu fizesse sem ti e só me recordei do cigarro pós-sexo. Acendo um, na tentativa insana de tentar pensar em alguma outra coisa, em vão, o cigarro era melhor quando se transava antes, conjuntamente, contigo, antigamente.

Olho para o banco ao lado, passo a mão, querendo sentir sua pele, resgatar os resquícios que ainda possa haver de seu cheiro. Mistura-se em meu olfato a fumaça do cigarro e a lembrança do seu aroma. Dois dos meus vícios confrontam-se nesse momento.

Desisto de tentar te esquecer por hoje, procuro no porta-luvas o que tiver para saciar a saudade, encontro um lencinho, branco mas amarelado, com um bordado, uma qualidade entre suas prendas. Com um entrançado de linhas, nossos nomes na cor de vinho, afinal, era a nossa cor, o tom dos seus cabelos, a cor das camisas que você dizia que combinava comigo.

Não sei se é o trago, mas há algo travando a minha garganta. Aliás, agora que estou sozinho, eu posso chorar.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Plano de voo - Gonzaguinha
LENDO NO MOMENTO: Tocaia Grande - Jorge Amado - pg. 412 || A Normalista - Adolfo Caminha - pg. 64.


Boa Sorte || ApontArte

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O ciúme, por mim e por Chicão Buarque

O Chico Buarque, como compositor, é considerado por muitos, e por mim também, como o maior que o Brasil já teve. Mas na literatura ele não é tão unanimidade assim. Gosto de lê-lo, porque ele me dá uma sensação que só senti nos livros dele. Uma sensação de não saber ao certo se estou gostando ou não, durante a leitura. Mas quando se completa o livro, você, enfim, percebe que o livro é bom. Segue agora um trecho do livro Leite Derramado, dele, que eu achei sensacional!


Leite Derramado. Chico Buarque. Capítulo 11. Página 61.

"[...] Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa de sua feiura. Sabendo-se desprezível, apresenta-se com nomes supostos [...]"


Agora segue o conto que eu fiz, inspirado nesse trecho:


O aperitivo e o prato principal no pagode do Bentinho



O pagode na casa do Bentinho já estava marcado. Sendo ele do Rio, outro tema não podia haver e a festa seria monumental. Mas na faculdade falavam mais sobre outra coisa: Com quem Fabiano iria passar a festa em chamego. Ele queixava Ana Terra e Iracema ao mesmo tempo, de forma que ninguém tinha absoluta certeza do sim e do não entre os três. Mas no pagode ele tinha que escolher uma ou a guerra seria anunciada.
As duas moças em questão tinham a mesma certeza de que o que falavam sobre a rival era fofoca, intriga para se ver confusão; que Fabiano só tinha olhos para elas. Já ele não revelava o seu segredo nem para os amigos mais próximos, deixando tudo para o dia da festa.
Estrategicamente, o garanhão deixou para chegar na festa bem depois, já com as duas pretendentes por lá. Primeiramente, lógico, ele foi falar com a rapaziada, tomar uma cerveja e ver direito o som da roda de samba. Confirmou que não tinha negócio de banjo entre os instrumentistas e que tocavam Leci Brandão, daí sim, soube realmente que a festa seria boa.
Num primeiro contato, ele falou rapidamente e em tempos iguais com as duas, que não estavam perto uma da outra. Ele, muito bem quisto, conversou com todos os agrupamentos de amigos. Parecia mesmo que ele estava medindo todos os seus passos, para não revelar um interesse maior por uma do que pela outra precipitadamente. Acabou que, com isso, ele sozinho disputou atenção com a banda, nesse momento cantando João Nogueira.
Com mais um tempo de cerveja para todos, a banda resolveu usar sua arma secreta, um pot-pourri de Martinho da Vila. Subitamente a festa entrou em outra aura. Todos vibravam, quem sabia dançar, dançava, quem não sabia ficava no ciscado no mesmo lugar e um casal lá improvisou uma encenação de mestre -sala e porta-bandeira.
Fabiano, então, aproveitando o momento que a cambada mudou a atenção para os dançarinos, se aproximou de Ana Terra e puxou-a para dançar. Logicamente Iracema viu logo, mas ficou no seu canto, vendo onde isso ia dar. Enquanto dançavam, eles tiveram essa conversa.

- Pensei que estava com medo de mim?
- Achou mesmo que eu ia aguentar passar a noite inteira só lhe olhando e não fazendo nada?
- Não seria uma possibilidade estranha. Passou boa parte da noite sem nem lembrar da minha presença...
- Essa festa não teria graça sem esse momento, só nosso, apesar de que aqui nós não teremos isso plenamente.
- É, aqui realmente, estamos próximos, mas não estamos a sós.
- Mas podemos resolver isso mais tarde!
- Vamos ver, vamos ver... não sou tão fácil assim.

Daí, teve mais conversas aleatórias e no final do selecionado de Martinho, ele pediu licença para ir ao banheiro, um instante. Sendo que na volta, ele não foi direto para perto dela, foi rodar entre os amigos mais uma vez. Falou algo no ouvido do tocador de cavaquinho e continuou lá meio próximo.
Iracema já tinha desistido de se animar, tinha sentado numa cadeira, fazendo bico, emburrado de vez. Então, o cara do cavaquinho puxou o pedido do Fabiano, a clássica Aquarela do Brasil. Todo mundo pirou de vez, é uma música que todo mundo se animaria e saberia pelo menos um trecho. Mas era dos versos sobre o Ceará de que ele precisava.
Ele se aproximou da bicuda sentada, estendeu a mão como um convite para a dança e deu um sorriso e uma piscadinha na mesma hora do trecho cearense. Sem precisar nenhum dos dois falar nada, ela se levantou e foi dançar com ele. Mas durante esse momento, ela começou a fala:

- Pensei que ia ficar dançando só com a Ana!
- Ali era só um aquecimento, um aperitivo para esse prato principal!
Nessa hora ela abriu a defesa, deu um sorriso safado e falou sussurrando, no ouvido dele:

- Pois então, pode comer!

Fabiano não iria responder com palavras, mas mesmo se quisesse, não teve tempo para isso. Ana Terra ficou fula de raiva com toda aquela encenação, a escolha de uma música, o jeito mais sensual que eles dançavam e ela não escutou o que ela lhe disse no ouvido, mas deduziu pelas faces deles que ela iria rodar nessa história. Mas não mediu as ações, chegou lá apartando os dois e dando uma mãozada na cara da Iracema, que também não se intimidou e voou para cima e começou a briga.
E, moças, desculpem, mas briga de mulher é muito massa! Não tem força masculina que consiga soltar um cacho de cabelo da mão da adversária! Foi zunhada e mordidas à torto e à direito. Ana Terra era mais forte e jogava Iracema para todos os lados. Mas esta tinha uma experiência em artes maciais e foi quem levou a luta para o chão, com uma rasteira surpreendente. Aí sim a peleja esquentou de vez. A roda humana que delimitava o ringue estava enlouquecida e ninguém, até agora, ousou apartar.
Fabiano, misteriosamente sumiu; dizem que se mandou com a Luzia, uma negra tanajura.
Depois de encerrada a briga, a roda de samba se recompôs, tocando Vai Passar, do Chico Buarque, na tentativa de ser, mais uma vez, o prato principal da festa.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Isn't She Lovely - Ed Motta [2010 - Live in Citibank Hall
LENDO NO MOMENTO: Tocaia Grande - Jorge Amado - pg. 350 || A Normalista - Adolfo Caminha - pg. 60.



Boa Sorte || ApontArte

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sempre a segundos atrás


Sempre a segundos atrás


O acaso zombou dos nossos destinos
Cruzaram-se horários e caminhos

Quem viu quem primeiro?
Se no instante que te vi
Tu já me via
E sorria.
Não imaginas em quem eu pensava
A alguns segundos atrás.

Primeira frase quando voltei a estar só:
Nunca fiquei tão feliz com um não-beijo.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Inês [Apaga o fogo Mané] - Demônios da Garoa
LENDO NO MOMENTO: Tocaia Grande - Jorge Amado - pg. 269 || Leite Derramado - Chico Buarque - Concluído || A Normalista - Adolfo Caminha - pg. 24.



Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Sempre Presente

Poesia antiga, que eu não sei porque ainda não a publiquei aqui!


Sempre Presente


Eu queria estar sempre presente
Nas suas horas de agonia,
No momento de calmaria,
Totalmente em sua vida.

Quero estar sempre presente
Nos seus sonhos e orações,
Quero estar em seus grilhões
De forma voluntariosa,
Pode ser impiedosa,
Mas quero está sempre presente.

Quero te dar toda a atenção
E em meu coração
Você está sempre presente.
Para acabar com a solidão,
Para repetir-me à exaustão
Vou estar sempre presente.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Aboniza mas não morre - Nelson Sargento e Tereza Cristina [CD Cidade do Samba]
LENDO NO MOMENTO: Tocaia Grande - Jorge Amado - pg. 246 || Leite Derramado - Chico Buarque - pg. 76.

Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Corrente de textos

Depois do recesso de férias, voltamos às postagens de todas as santas quintas! Hoje farei uma sequencia de textos, onde você só lê até onde você quiser, não precisa ler todos!

Começo com o único pensamento literário que tive nessas férias e que foi escrito, além deste último ensaio sobre a importância dos personagens:

"Pensar pode ser uma dádiva ou um fardo para o ser humano. Não sei se é vantagem humana poder imaginá-la ao meu lado, sem poder realizar tal desejo" - CA Ribeiro Neto, salvo como mensagem de texto no celular.

Daí esse simples pensamento meu, fez-me relembrar de uma grande crônica de Antonio Prata, que é a seguinte:


Os outros
Você não acha estranho que existam os outros? Eu também não achava, até anteontem, quando tive o que, por falta de nome melhor, chamei de SCA – Súbita Consciência da Alteridade.
 
Estava no carro, esperando o farol abrir e comecei a observar um pedestre, vindo pela calçada. Foi então que, do nada, senti o espasmo filosófico, a fisgada ontológica. Simplesmente entendi, naquele instante, que o pedestre era um outro: via o mundo por seus próprios olhos, sentia um gosto em sua boca, um peso sobre seus ombros, tinha antepassados, medo da morte e achava que as unhas dos pés dele eram absolutamente normais – estranhas eram as minhas e as suas, caro leitor, pois somos os outros da vida dele.

O farol abriu, o pedestre ficou para trás, mas eu não conseguia parar de pensar que ele agora estava no quarteirão de cima, aprisionado em seus pensamentos, embalado por sua pele, tão centro do Cosmos e da Criação quanto eu, você e sua tia avó.

Sei que o que estou dizendo é de uma obviedade tacanha, mas não são essas verdades as mais difíceis de enxergar? A morte, por exemplo. Você sabe, racionalmente, que um dia vai morrer. Mas, cá entre nós: você acredita mesmo que isso seja possível? Claro que não! Afinal, você é você! Se você acabar, acaba tudo e, convenhamos, isso não faz o menor sentido.

As formigas não são assim. Elas não sabem que existem. E, se alguma consciência elas têm, é de que não são o centro nem do próprio formigueiro. Vi um documentário, ontem de noite. Diante de um riacho, as saúvas africanas se metiam na água e formavam uma ponte, com seus próprios corpos, para que as outras passassem. Morriam afogadas, para que o formigueiro sobrevivesse.

Não, nenhuma compaixão cristã brotou em mim naquele momento, nenhuma solidariedade pela formiga desconhecida. (Deus me livre, ser saúva africana!). O que senti foi uma imensa curiosidade de saber o que o pedestre estaria fazendo, naquele momento. Estaria vendo o mesmo documentário? Dormindo? Desejando a mulher do próximo? Afinal, ele estava existindo, e continua existindo agora, assim como eu, você, o Bill Clinton, o Moraes Moreira.
 
São sete bilhões de narradores em primeira pessoa, soltos por aí, crentes que, se Deus existe, é conosco que virá puxar papo, qualquer dia desses. Sete bilhões de mundinhos. Sete bilhões de chulés. Sete bilhões de irritações, sistemas digestivos, músicas chicletentas que não desgrudam da cabeça e a esperança quase tangível de que, mês que vem, ga-nharemos na loteria. Até a rainha da Inglaterra, agorinha mesmo, tá lá, minhocando as coisas dela, em inglês, por debaixo da coroa. Não é estranhíssimo?
Então, esse texto acabou me lembrando outros dois textos meus, que também falam do olhar para a sociedade de uma forma repentinamente diferente:

Bem, parabéns e obrigado se você chegou até aqui!

CA Ribeiro Neto

xXx

ESCUTANDO NO MOMENTO: Nada.
LENDO NO MOMENTO: Tocaia Grande - Jorge Amado - pg. 176


Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Você tem uma vizinha meio Macabéa?

Um ensaio literário, nada científico.


Você tem uma vizinha meio Macabéa?



Qual o poder de um personagem? É óbvio que sem eles não há histórias, há cenários. Mas criá-los não é só decidir quem vai mediar os verbos do texto. Dom Quixote, Hamlet, Dorian Gray, Capitu, Policarpo Quaresma, Macabéa e Baleia. Se você tem uma grau médio de leitura já deve ter ouvido falar de pelo menos 5 desses. O que eles têm em comum: se tornaram ícones da literatura sem mesmo existir.

Infelizmente, muitos personagens são mais conhecidos que seus criadores; mas isso também prova de que estes fizeram seu trabalho bem feito. Estes nomes citados servirão apenas como exemplos do poder real de um personagem bem estruturado.
 
Dom Quixote, de Cervantes, é o protagonista de um dos romances mais mais importantes da cultura ocidental. Um cara que enlouqueceu de tanto ler, se proclamou cavaleiro e saiu por aí a enfrentar dragões – ou moinhos, talvez! Resumindo em uma frase não se percebe o alcance desse livro. Mas, pensando um pouco, quando você fala bem de um livro que gostou, defende seu autor preferido de alguma acusação, não estaria enfrentando uma dificuldade, um moinho que insiste em rodar uma ofensa para o ar?
 
Quixote é tão importante que Lima Barreto se inspirou nele para escrever Triste Fim de Policarpo Quaresma. Outro personagem tido como louco – por seu país – e que há como causador da loucura a leitura! Lima é tão sarcástico, que coloca seus outros personagens tendo orgulho de não mais lerem. Policarpo era louco, mas deixou sua semente país. Ou o Brasil alguma vez se desvencilhou da imagem do que ainda pode ser?
 
Dorian Gray também é um eternizado e há quem ache que este é o nome do autor! Pobre Oscar Wilde é esquecido enquanto o Gray é citado por aí! Sua beleza e jovialidade era tão importante para si, que procurou a magia para não perdê-las jamais. Tanto não perdeu que marcou a principal obra decadentista mundial. E o que ele e os outros citados fizeram para tal: mexeram diretamente com os leitores. O personagem não precisa parecer seu vizinho, ser um super-herói ou pendurar uma melancia no pescoço. Ele precisa mexer com os sentimentos de quem os lê.
 
Capitu representa bem esse sentimento. Com seus olhos de ressaca, Machado fá-la criar um mistério que perturba Bentinho e seus leitores. Dom Casmurro foi praticamente o primeiro 'Você Decide'. Já vi discussões calorosas de defesas e acusações a Capitu; e aí eu pergunto, Machado fez ou não fez um livro e uma personagem perfeitos? [Para mim, ela é inocente].
 
Superficialmente, Romeu e Julieta parece ser a história mais conhecida de Shakespeare, mas e se a gente tentasse catalogar o número de frases mundialmente conhecidas de Hamlet? “Há algo de podre no reino da Dinamarca”, “Dormir, dormir, talvez sonhar...”, "Há mais coisas no céu e na terra, Do que sonha a tua filosofia" e, a mais conhecida, “ser ou não ser, eis a questão”. Vocês acabaram de ler literatura que, de tão eternizadas, viraram provérbios, ditos populares. Será isso o máximo que uma obra artística pode chegar da consagração?
 
E quando o personagem é criado para ser amado e odiado ao mesmo tempo? Macabéa, da Clarice Lispector, é inesquecível porque você quer entrar na história, puxar sua orelha e mandar ela tomar rumo na vida. Macabéa é mais importante que o livro em que está inserida, ou todos se lembram facilmente que o livro que ela protagoniza é 'A Hora da Estrela'?
 
Aliás, para não falarmos apenas de protagonistas, quando falamos em 'Vidas Secas', do Graciliano Ramos, lembramos primeiro do Fabiano ou da Baleia? Baleia era o cachorro de uma família de retirantes, praticamente um parente, que mais parecia nosso também. Já ouvi vários relatos de choro quando leram a parte de sua morte. Eu não chorei, mas confesso a garganta presa.
 
Há quem diga que romance é superior a contos, cronicas e poemas; a favor desse argumento, afirmam-se que seus personagens dificilmente se imortalizam. Mas só para não diminuir ninguém, Homero e Camões tiveram muitos personagens inesquecíveis. Tchecov, Machado, Lima Barreto e João do Rio têm personagens nos contos importantíssimos.
 
E então, vais mesmo fazer um personagem parecido com o seu vizinho?



CA Ribeiro Neto

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ESCUTANDO NO MOMENTO: Da cor do pecado - Nara Leão
LENDO NO MOMENTO: Tocaia Grande - Jorge Amado - pg. 108


Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Dos meios de transportes - ontem, pelo Limão, e hoje, por mim

Amigos, posto mais um texto antigo, que já passou por esse blog antes, mas foi em 2008. Vou relacionar aqui o meu texto '10% Móvel', que fala sobre aeroporto, com um trecho do livro 'Triste Fim de Policarpo Quaresma', de Lima Barreto, que fala sobre os trens. Independente do meio utilizado, os dois falam do ambiente das chegadas e despedidas.


"É uma emoção especial de quem mora longe, essa de ver chegar os meios de transporte que nos põem em comunicação com o resto do mundo. Há uma mescla de medo e de alegria, ao mesmo tempo que  se pensa em boas novas, pensam-se também más. A alternativa angustia...
O trem ou o vapor como que vem do indeterminado, do Mistério, e traz, além de notícias gerais, boas ou más, também o gesto, um sorriso, a voz das pessaos que amamos e estão longe." - Triste de Fim de Policarpo Quaresma [parte II, capítulo I]

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10% móvel



Sabrina estava abismada. Seu último namoro terminou há sete meses e ela continuava triste e só. Não se sabe ao certo se ela não estava com sorte ou eram consequências do auto-isolamento, mas o fato era que ela estava carente e não estava fazendo esforço para reverter o quadro.
 
Certa vez, ela escutou um amigo dizer que é ótimo o ambiente de aeroportos. Seja na alegria ou na tristeza, das saídas e chegadas; seja na saúde ou na doença, dos passeios ou dos imprevistos. No aeroporto, ou você chora, ou é solidário às lágrimas dos outros. Sem falar que Sabrina não tem conhecidos com o costume de viajar de avião. Então, seria o lugar prefeito para não encontrar ninguém.

Ela foi ao aeroporto afim de ver pessoas e imaginar suas histórias. Se gostasse, escreveria, se não, olhava para outra pessoa [ela sempre andava com um caderninho]. Chegou, foi à praça de alimentação, pediu um café [desistiu de comer depois que examinou os preços] e começou.
 
- Aquele cara de terno e gravata, falando aperreado ao celular, mas tomando cuidado para não ser escutado... tem cara de vereador que está sendo investigado por corrupção. Conversando com assessores e medindo as palavras devido à quebra de sigilo telefônico... essa história já está trivial, acontece sempre...

Continua.

- Aquele bebezinho, no colo de sua mãe, recebe o que pode ser o último beijo do pai, que se despede. Quem sabe seus “dias dos pais” serão tristonhos. Quem sabe a mãe dele se junta com um ótimo padrasto. Qual escrevo? A história boa ou a ruim? Melhor não escrever...

Próxima pessoa.

- Aquele rapaz, que parece muito com o Caio, meu ex... do lado daquela mulher, que parece minha ex-sogra e aquela turma, que parece muito com os amigos do meu ex e que, inclusive, estão apontando para mim.

Um dos pontos positivos do aeroporto deu errado. Realmente era o Caio, a ex-sogra [que tentou segurá-lo para que não fosse até ela...] e a velha turma. Ele, sozinho, se aproxima de Sabrina e começa a conversa.

- Veio se despedir de mim também?
- Não! Eu vim passear... é... deixa para lá... você está indo para onde? [Ai meu Deus, ele está rindo de mim!]
- Para Espanha. Fazer pós-graduação em Administração em Agronegócio.
- Legal! Boa sorte!
- Olha, eu já vou! Meu embarque é agora! Tchau.
- Tchau! Boa sorte!

Sabrina estava abismada. Ele se formou, e ela não sabia. Ia viajar, e ela não sabia. E o pior, tinha umas garotas que estavam com a turma, que ela não sabia quem eram!

Tomou o último gole do café e começou a chorar. Mas foi tempo chorando soluçadamente até que o garçom lhe trouxe outra xícara de café sem ela pedir. Na hora, ela nem se tocou, bebeu mesmo e junto com a calma, chegou a pergunta. Quem pediu esse café? Sabrina chamou o garçom.

- Desculpe, mas eu não tinha pedido esse café.
- Nós sabemos, Senhorita. Foi cortesia da casa!
- Ah sim! Mas eu faço questão de pagar. Me dê a conta com os dois cafezinhos, por favor!
- Pois não! - Ele pegou um recibo, escreveu “seu telefone” e entregou-a.
- Desculpe, mas eu não entendi.
- É a única coisa que quero pelos cafés!
- Ah não! Está aqui o dinheiro, eu fiz a conta de cabeça. - e entregou o dinheiro.
- Então o telefone pode ser como gorjeta?

Sabrina estava abismada. Pegou o papel e anotou seu número de celular e seu nome. Ele agradeceu e se retirou. Antes mesmo dela sair do aeroporto, recebeu uma mensagem que diz assim.

“Esqueceu o seu troco, está aqui: -número- Daniel. Espero não ter lhe deixado abismada, mas é que não gostei de lhe conhecer triste e só. Podemos nos conhecer de novo?”.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Carolina - Nara Leão
LENDO NO MOMENTO: Triste fim de Policarpo Quaresma - pg. 75.



Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Triângulo Louco

Poesia em sequencia da passada, ela já fala por si só. Leiam.


Triângulo Louco

!
e
se de
repente
O triângulo
Se entendesse?
E começassem algo
Inusitado e feliz, como
Por exemplo, o Um ficando
Com os outros Dois! E esses Dois,
Gostando de estar com o Um. E mais,
Se esses Dois passarem a se gostar também!
Ah! Como descomplicaria esse triângulo amoroso!


CA Ribeiro Neto

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ESCUTANDO NO MOMENTO: Só Deus é quem sabe - Martinália
LENDO NO MOMENTO: Solar - Ian McEwan - pg. 235// Dentro da Noite - João do Rio - pág. 175 // Triste fim de Policarpo Quaresma - pg. 39.



Boa Sorte || ApontArte

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Triângulo Triste

Uma das primeiras postagens desse blog, reposto para que meu novo público possa ler das das minhas melhores poesias. Hoje posto 'Triângulo Triste e na próxima quinta postarei 'Triângulo Louco'.



Triângulo Triste

Como é complicado um triângulo amoroso!
Dois gostam de Um e Um gosta de Todos.
E se os Dois se conhecerem?
E se o Um não percebesse?
E se alguém chorar?
E tudo terminar
De um jeito
Triste
E só
 ?


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Cruel - Luis Melodia
LENDO NO MOMENTO: Solar - Ian McEwan - pg. 235// Dentro da Noite - João do Rio - pág. 102 // Triste fim de Policarpo Quaresma - pg. 18.




Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Os textos mais tristes

Continuando com textos tristes, correlaciono aqui dois links, um com o meu texto mais triste e outro com o filme inspirado no conto mais triste que eu já li:

Por falta de gentileza é um conto que faz parte do meu futuro livro 'Desenho Urbano. Mais ou menos em 2008, sonhei com essa história, tal qual está aí, acordei assombrado e, para conseguir voltar a dormir, tive que escrevê-lo. Não conheço nenhum personagem envolvido, eles não se parecem com ninguém que conheço, eu simplesmente sonhei e escrevi.


A Pequena Vendedora de Fósforos é um conto de fadas que li ano passado. Este filme é uma adaptação do conto de Hans Christian Andersen que quase me fez chorar no ônibus. O filme ainda corta umas partes bem pesadas, como ela não poder voltar para casa senão seu pai a bateria, ou essa mulher que aparece para levá-la é a avó dela, que ela era muito apegada e que faleceu há pouco tempo.


Impossível não ligar a condição de vidas nas duas histórias e como a sociedade faz que não vê esses seres e que farão pouco caso de suas mortes.

CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Eu apenas queria que você soubesse - Álbum Geral [1987] - Gonzaguinha
LENDO NO MOMENTO: Solar - Ian McEwan - pg. 228// Dentro da Noite - João do Rio - pág. 54 // Licânia - Clauder Arcanjo - pág. 52.


Boa Sorte || ApontArte

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Seu Elias e a personificação da tristeza

Conto escrito inspirado na música "No Hospital", de Amado Batista. Olhe, adoro músicas tristes, mas essa talvez seja a mais triste que já escutei em toda a minha vida e merecia essa homenagem.



Seu Elias e a personificação da tristeza



Nunca vi um sorriso no rosto daquele homem. Eu, muito novo na região, não entendia o fato dele ser o mais isolado da vila que mais parecia uma família só. Todas as datas comemorativas eram festejadas na pracinha circular que havia ao centro e ele ou não participava, ou figurava coadjuvantemente.
Seu Elias era a personificação da tristeza e o que mais me espantava era que todos da vizinhança não se incomodavam com isso. Perguntando um pouco para cada um, descobri os retalhos da maior história da sua vida.
Ele e sua esposa formavam o casal mais bonito que poderia existir. Um amor perfeito, que ninguém poderia supor que um dia fosse se acabar. O único problema é que eles não conseguiam ter um filho. Sempre tentavam e não conseguiam, foram à rezadeiras, tentaram de várias maneiras e ajuda médica.
Com o acompanhamento médico, Dona Paula conseguiu engravidar e eles tiveram os melhores 7 meses da vida deles. Seu Elias não se cabia de tanta felicidade. Era alegria em capacidade máxima, que transbordava por sua boca, seu sorriso. Na época, ele tinha 29 anos e aquele filho era o que faltava para ele se sentir um adulto completo.
Era uma gravidez de risco e as complicações vieram. Correram ao hospital e ela foi levada pelos enfermeiros. O final da história, depois de muito pensar sobre como conseguir a melhor informação, tive coragem de perguntar diretamente a ele, que me contou que Dona Paula e seu filho não saíram com vida da sala.

- No hospital, na sala de cirurgia, pela vidraça eu via, você sofrendo a sorrir. E seu sorriso, aos poucos se desfazendo, então vi você morrendo, sem poder me despedir.

CA Ribeiro Neto

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Quem quiser escutar a música, veja o vídeo aqui.

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ESCUTANDO NO MOMENTO: Vamos Nelson - Gonzaguinha
LENDO NO MOMENTO: Solar - Ian McEwan - pg. 160// A condessa sangrenta - Alejandra Pizarnik - pg.25


Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Cinco anos de Eufonia


Hoje, 19 de maio de 2011, comemora-se 5 anos da minha maior paixão. O Grupo Eufonia de Literatura. Antes chamado de GEP (Grupo de Escritores e Poetas), de Grupo Literário APPLE (Amantes da Prosa e Poesia, Lida e Escrita), o Eufonia já passou por profundas modificações ao longo de sua existência, que, acho, é o que marca fundamentalmente o nosso grupo: Nosso grupo é o que somos; se mudam as pessoas, muda o Eufonia.
Eufonia é o primeiro termo do nome científico do pássaro Vem-vem – há nome mais acolhedor que este? – e, como pássaros, não queremos gaiolas: Nossos encontros se chama “Arribações” e o local que nos encontramos se chama “Ninho” – pois queremos nos aconchegar.
Tenho profundo prazer em ser nomeado “Segundo-Ministro do Grupo Eufonia de Literatura”, liderando nosso grupo desde que eu e Pedro Gurgel o fundamos. Agora meu parceiro na organização é o “Vice-Rei” Hermes Veras, que ajuda bem mais do que imagina. Vou para de citar nomes por aqui, porque o número de pessoas que já passaram por nós é enorme.
Digo que o Eufonia é minha vida, pois nesses cinco anos muito já fiz para mantê-lo. Encontros de três horas, duas vezes por semana; aos sábado pela manhã; aos domingos à tarde. Já percorri muitos cantos da cidade, atrás de um local perfeito para residirmos. Já organizei encontros com mais de 20 pessoas; já organizei encontros para duas pessoas e já teve uma única vez que só eu apareci.
Contudo, pensar em desistir nunca foi hipótese. Não é possível minha vida sem um Grupo Eufonia de Literatura. Posso morar em outro lugar, posso virar milionário, posso ir para a cadeia. Em qualquer circunstância possível, em algum momento da semana, haverá uma arribação em algum ninho por aí.
Atualmente, nos encontramos na Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira, na Av. Da Universidade, em frente a Casa Amarela da UFC; toda terça-feira; às 19 horas e 10 minutos. Lá, podemos exercer nossas diretrizes:
      1. Teoricamente, um grupo de discussão e pesquisa literária;
      2. Na prática, uma reunião de amigos (ou para se fazer amigos), onde conversamos sobre literatura e adjacentes;
      3. E essencialmente, um local para ouvir e ser ouvido.

Finalizo com um de nossos lemas, que eu considero como a principal base do que construímos: A fuga do tema é fundamental.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Álbum Gonzaguinha da Vida - Gonzaguinha
LENDO NO MOMENTO: Solar - Ian McEwan - pg. 88// A condessa sangrenta - Alejandra Pizarnik - pg.25


Boa Sorte || ApontArte

Metendo ou levando peia

Mais um texto com histórias do meu Ceará! Se você tem algo para me corrigir, não pense duas vezes, faça!



Metendo ou levando peia



Cearense é bicho inquieto mesmo. Sempre diminuído pelos outros, mas sempre marcou a história com a valentia e a habilidade de fazer algo diferente. Tratarei nesta crônica das batalhas cearenses e de como os desfechos foram sempre tristes, mas inusitados.
Canudos, a história contada por Euclides da Cunha, em Os Sertões; e por Vargas Llosa, em Guerra do Fim do Mundo, é bem conhecida e todo mundo sabe seu desfecho. O exército brasileiro chegou matando todo mundo, incluindo velhos, mulheres e crianças, sob a justificativa de eliminar uma sociedade comunista.
Tudo começou com um cearense, de Quixeramobim, Antonio Conselheiro, que saiu peregrinando pelo sertão e foi seguido até o interior da Bahia. Lá eles pararam, montaram suas barracas, produziam o que podiam em conjunto e o que não podiam, compravam, também em conjunto. Foi o suficiente para serem acusados de comunas. Os agricultores tiveram que se armar com o que podiam e resistiram bem, até que chamaram o capitão não sei das quantas, veterano da Guerra do Paraguai, para acabar com a “baderna”. Foi sangue, negada.
Confederação do Equador, alguns estados nordestinos se reuniram e queriam se desligar do Brasil. Entre os líderes, Frei Caneca. Essa força revolucionária, se eu não me engano, chegaram a tomar posse do Ceará e do Rio Grande do Norte, mas depois não resistiram ao fogo do exército brasileiro e não obtiveram sucesso.
A pena para Frei Caneca: fuzilamento na praça do Passeio Público. O procedimento normal seria sete soldados atirarem no alvo ao mesmo tempo, cada um em um ponto vital para que a “culpa” não ficasse numa pessoa apenas. Mas o Frei tinha moral, e ninguém queria atirar nele, então cada um dos sete soldados tiveram a ideia de não atirar e deixar o “criminoso” morrer com 6 balas letais. Resultado foi que o patente-superior-de-porcaria deu vários gritos de fogo e ninguém atirava. Teve ele que pegar sua arma e atirar somente uma vez para matar o cabra bom cearense.
Engraçado é que estou falando de religiosos liderando movimentações que geraram muito sangue, mas nada se compara a Padre Cícero. O Padim, que estava doido para ir na política, escondeu o ex-governador em Juazeiro do Norte, que estava sendo procurado. A polícia veio atrás deste último e o Cição não deixou; incitou a população a pegar em armas, que não deixaram ninguém entrar na cidade, fizeram os policiais fazer carreira, que batiam os calcanhares em suas próprias bundas. O padre aproveitou a situação e, dizem os livros de história, rumou com a população para Fortaleza, para tomar o poder. Assim o fez e se tornou Vice-Governador. Pacífico, né? É, é santo...
Mas loucura mesmo foi o caso da fazenda Caldeirão. Com a fama do Padre Cícero correndo muito, várias pessoas do nordeste inteiro vinham para perto dele. Assim, o Cariri ficou repleto de moradores de rua. Um grupo foi pedir ajuda ao Padim e, como ele tinha uma fazenda desocupada, este disse que eles poderiam ir para lá e trabalhar na terra. Como ele tinha ganhado uma vaca de um fazendeiro, aproveitou e disse para eles cuidarem da sua vaquinha. Pra quê? Começaram a endeusar essa vaca. Ganhava tudo do bom e do melhor.
O exército brasileiro, mais uma vez, achou que isso era coisa de comunas e sentou o pau. Sendo que eles tinham um brinquedo novo e resolveram usar só para não enferrujar: aviões de guerra. É isso mesmo, eles bombardearam uma fazenda cheia de brasileiros que só queriam viver na fazenda do seu líder. Mas foi peia, teve até uma resistência, mas não dava para comparar as forças e os recursos.
Mas esse negócio de lutar vem desde bem antes, o Siará foi uma das últimas capitanias hereditárias a serem colonizadas porque os índios daqui eram muito valentes. Holandeses e franceses bem que tentaram dominar o local, mas os bugres fizeram eles pedirem pinico. Os portugueses só conseguiram se chegar devagarinho por causa de acordo realizado entre as duas partes. E só para não falar de religião, esse cessar fogo teve a mediação dos jesuítas Francisco Pinto e Pereira Filgueira.
Só para polemizar o final: catolicismo e batalhas, coincidentemente entrelaçados?


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Gil Luminoso - Gilberto Gil
LENDO NO MOMENTO: Brincar com Armas - Pedro Salgueiro - Pg. 69 // A condessa sangrenta - Alejandra Pizarnik - pg.25


Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Estrelas justapostas

Última poesia que escrevi, numa noite de vitória do vozão e bom papo com amigos.

Estrelas justapostas


Desculpem-me quem for conservador,
para quem for constrangedor,
por não ser defensor das juras de amor
ao céu do interior.

Se o seu céu é azulado,
mais estrelado,
não me desagrado ao admirá-lo.

Mas não diminuam meu céu urbano,
que é lindamente mais negro,
meio roxeando.
Nossas nuvens são véus,
que não deixam ao léu
nossos troféus:
A lua e as estrelas, que,
não se oponham, também são nossas
e que, combinadas
com as luzes justapostas,
tornam os postes,
as janelas dos apartamentos
em estrelas caídas -
loucas para realizarem desejos.

CA Ribeiro Neto

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 ESCUTANDO NO MOMENTO: Hoje - Dalva de Oliveira
LENDO NO MOMENTO: As Religiões no Rio - João do Rio - pg. 210 // A condessa sangrenta - Alejandra Pizarnik - pg. 13

Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Carta-cantada, e outras segundas intenções.

Cartas estão fora de moda, mas porque não revivê-las? Se o objetivo é a comunicação, fale por elas e pelas entrelinhas. Carta-cantada é um conto que escrevi com o pseudônimo Wallace Lago e que saiu do meu livro 'Desenho Urbano' aos 45 do segundo tempo.




Carta-Cantada



Com licença, mas, observando-a, tenho a impressão de que você é muito inteligente. Exatamente por isso, que me utilizo deste papel, para saber se estou à altura. Se minha dedução estiver correta, você, como mulher inteligente, deve se interessar por pessoas de mesma qualidade.

Você deve estar achando estranho essa carta-cantada, porque o que eu escrevi até agora, nem mostrou se sou inteligente, como também não demonstrou nenhuma palavra de conquista, então irei começar.

Quando a vi chegar no cinema, sentar relativamente próxima à cadeira em que eu estava, colocar os óculos e rodar a vista em toda a sala de projeção até pará-la em mim, percebi que me deparava em um momento único. Senti-me atraído por você só de te olhar, mesmo sem conseguir distinguir seu rosto e seu corpo. As únicas coisas que eu conseguia visualizar era seu loiro cabelo, sua roupa preta, seu jeito de se movimentar e, principalmente, de olhar.

Inclusive, esse último, foi o que mais chamou a minha atenção. Um olhar diferenciado, que demonstra não estar procurando algo, mas deixa claro que não lhe permitiria escapar nada. Um olhar lúcido, de segurar os pés no chão, mas também servia como âncora para os sonhos e para a paixão.

Um olhar filtrador, que não deixaria o caminho aberto para qualquer marmanjo, permitiria apenas os que julgasse dignos de oportunidade.

Logo após esse nosso cruzamento de olhares, o filme começou. Não fui conversar com você nesse momento, porque não queria atrapalhar o seu momento de distração, mas depois notei que a minha espera não adiantou, pois você não parava de olhar para trás (sempre esse seu olhar...). À partir desse fato, eu indago: quem de nós dois prestou mais atenção no filme? Se a resposta for o meu nome (César Alves), aconselho-te a me responder agora!


Wallace Lago

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Falando em cartas, indico uma música antigona, revivida por Luiz Melodia, no álbum Estação Melodia: Recado que Maria Mandou.

Indico também o conto 'A Carta', do mestre Moreira Campos, incluso no livro 'Dizem que os cães vêem coisas' [Não encontrei link para o texto].

Indico também um outro texto meu, há muito tempo postado: Um texto rápido para desabafar.

CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: A mais bonita - Chico Buarque
LENDO NO MOMENTO: As Religiões no Rio - João do Rio - pg. 174 // Inimigos - Pedro Salgueiro - pg. 49

Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Flora Figueiredo de sobremesa


Flora Figueiredo foi um achado. Indicado pela minha amiga Deniz, escolhi um livro dela na estante aleatoriamente e estou lendo em doses lentas, mas saborosas – este livro é uma goloseima e não um remédio. Entro na Livraria Cultura dez minutos mais cedo do que deveria voltar do horário de almoço, sento numa poltrona e leio alguns poemas do livro 'Amor a céu aberto'. Muitas poesias perfeitas, outras medianas, e uma ou outra que eu tentei, mas não consegui entender, confesso. Flora Figueiredo virou minha sobremesa, se vamos comer Caetano, deixem-me saborear Amor a céu aberto e lamber os dedos. Destaco agora a que mais gostei dela:


TRANCOS, PLANÍCIES E BARRANCOS


Terrenos acidentados e planos
vêm escrevendo a minha história.
Alguns danos sei de cor,
outros, a memória jogou fora.
Dos sucessos, guardo agora
fitas, flores e fatos,
sorrisos no porta-retratos,
um rosto suando conquista.
(Página dupla pra qualquer revista.)
Envelheço em todo fevereiro,
que prefiro receber de frente,
que costumo sentir de corpo inteiro.
Quando chegar minha data final,
que se transcreva exatamente igual
em minha cripta:
"Intensamente, amou e viveu.
Felizmente não morreu invicta."


Flora Figueiredo,
no livro Amor a Céu Aberto


Ela tem um jeito único e bem feminino de escrever sobre tudo. A vida é difícil para todos, não adianta comparar, o interessante é como olhar para os trancos, planícies e barrancos. “Página dupla para qualquer revista”, pois a vida não é um livro, que trata de basicamente um assunto, ela comporta vários e ao mesmo tempo.
Também prefiro receber de frente o que costumo sentir de corpo inteiro. Afinal, adrenalina no corpo é sempre bom, não acham? Digo, as vezes o que causa a liberação do hormônio pode ser a fuga de um cachorro bravo, uma briga na fila do banco ou o primeiro beijo do garotinho, mas, olhando isoladamente, é bom sentir a adrenalina percorrendo nosso corpo inteiro – e é preferivelmente bom que o primeiro beijo seja de frente ao correspondente também!
Intensamente amar e viver é jogar; e quem joga está passível de erro e de derrotas. Passar por isso invicto seria não aprender nada, seria não sentir adrenalina.
Felizmente li Flora Figueiredo.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Não fale desse jeito - Ana Carolina
LENDO NO MOMENTO: Pelos Olhos de Maisie - Henry James - Pg. 206 // As Religiões no Rio - João do Rio - pg. 126 / Amor a céu aberto - Flora Figueiredo - Pg. 68.

Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Wallace no divã

Quem acompanha meu blog há muito tempo já conhece meu pseudônimo Wallace Lago. Há anos, eu e minha amiga psicóloga Vivi Lima resolvemos fazer uma consulta com Wallace, via msn. Anos depois, hoje, remoendo meus arquivos, encontrei esse arquivo muito engraçado que eu modifiquei literariamente para apresentar aqui, a vocês. Não sei vocês, mas eu achei que o Wallace, nesse texto, fez papel de bobo.

Wallace no divã



Wallace Lago: Bom dia!
Melinda Laranjeira: Bom dia, Wallace, pode se sentar, por favor.
Wallace Lago: Obrigado. Mas estamos em desigualdade: você sabe o meu nome e eu não sei o seu...
Melinda Laranjeira: Melinda Laranjeira, prazer! Serei sua psicóloga e conversaremos um pouco sobre vocês, tudo bem?
Wallace Lago: O prazer é todo meu, Melinda! Você será minha psicóloga, mas eu serei para você o que quiseres...
Melinda Laranjeira: bem, o que te motivou a procurar essa consulta?
Wallace Lago: me sinto um pouco discriminado na sociedade, muitos me veem com maus olhos, apesar do relativo sucesso que faço.
Melinda Laranjeira: e porque te veem assim?
Wallace Lago: porque gosto de fazer as coisas das quais tenho vontade e de conquistas pessoais que tenho interesse. O desejo carnal para mim é muito importante, mas a sociedade nega-a a si, então eu sou o errado da situação.
Melinda Laranjeira: o que você chama de desejo carnal?
Wallace Lago: o desejo de se envolver com outras pessoas, na verdade, no meu caso, apenas do sexo oposto. Sinto um grande prazer interior ao conquistar mais uma garota e faço disso um dos meus objetivos de vida. Quem não procura seu prazer interior? Mas sou taxado de galinha, de safado e muitas vezes também faço os outros sofrerem...
Melinda Laranjeira: e o que você faz da vida, além das conquistas?
Wallace Lago: eu escrevo, sabe, sou o chamado ghost writer, escrevo minhas histórias reais e vendo para escritores famosos continuarem suas famas. Principalmente em novelas, muitos ali sou eu.
Melinda Laranjeira: e quando começou essa sua sede de conquistas?
Wallace Lago: humm, no começo da adolescência... tinha uma vizinha bem mais velha do que eu, ela me seduzia com presentes e depois pedia que eu retribuísse...
Melinda Laranjeira: Quantos anos você tinha?
Wallace Lago: onze, doze, não me lembro ao certo. Ela me ensinava de tudo, tipo, o que eu devia falar para as mulheres, o que elas esperam de um homem. Coisas que julguei que todo homem deveria saber.
Melinda Laranjeira: mas você considera que sabe mais que os outros homens, não?
Wallace Lago: na verdade, quando descobri que muitos homens não sabem o que eu aprendi, passei a usar isso a meu favor e passei a aplicar tudo que eu aprendi com minha vizinha. Também ela me incentivava a ter namoradinhas e a aplicar o que me ensinava. Daí comecei a aprender também por conta própria.
Melinda Laranjeira: Você estudou, Wallace?
Wallace Lago: estudei sim, sempre em escola pública. Concluí o ensino médio. Na verdade, minha vizinha também me incentivava a estudar. Dizia que mulheres importantes se importavam com isso e que eu deveria me esforçar, principalmente no português, para saber falar direito.
Melinda Laranjeira: Tem mais alguma coisa que você considere importante a me contar, Wallace?
Wallace Lago: por enquanto, deixa eu ver, por enquanto acho que não. Mas quero voltar aqui mais vezes, pode ser? Gostei do seu cheiro e queria senti-lo mais uma vez...
Melinda Laranjeira: seu único objetivo seria sentir o meu cheiro?
Wallace Lago: não, de jeito nenhum. Preciso entender mais algumas coisas minhas, mas é claro que seu cheiro me ajudará a voltar...
Melinda Laranjeira: ainda não consigo perceber o que você deseja entender.
Wallace Lago: quero entender o que todos veem de tão errado em mim.
Melinda Laranjeira: você vê algo de errado em você?
Wallace Lago: ninguém é perfeito, né? Mas é complicado ver todos me olham como se estivessem vendo o capeta...
Melinda Laranjeira: Bom, Wallace, acho que seria interessante conversarmos mais uma vez antes de eu ou você decidirmos por um processo terapêutico. Qual a melhor data para você?
Wallace Lago: quando você puder, depende da sua agenda. Quem sabe na sexta a noite, na sua casa?
Melinda Laranjeira: sexta a noite seria ótimo, termino um paciente às vinte horas. Nos encontramos aqui, certo?
Wallace Lago: sim, no consultório pode ser também...
Melinda Laranjeira: e acho melhor se contar, Wallace. Ou você quer uma psicóloga ou procura um novo caso. A vida é feita de escolhas.
Wallace Lago: tudo bem, posso escolher uma opção agora e deixar a outra para depois. Então, já me vou indo.
Melinda Laranjeira: Até sexta!
Wallace Lago: Até! [um beijo na mão de Melinda]



Vivi Lima & CA Ribeiro Neto

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ESCUTANDO NO MOMENTO: Nunca te amei, idiota - Ana Carolina
LENDO NO MOMENTO: Pelos Olhos de Maisie - Henry James - Pg. 112 // As Religiões no Rio - João do Rio - pg. 126 / Amor a céu aberto - Flora Figueiredo - Pg. 48.

Boa Sorte || ApontArte

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sobre ausências, por mim e por Domingão

Último livro que li foi Luzia-Homem, do cearense Domingos Olímpio. Muitos só conhecem esse nome porque é numa rua em sua homenagem que ocorre o carnaval mais tradicional de Fortaleza. Mas todo cearense deveria ler esse livro que periga ser o melhor livro que li em 2011. Nele há um trecho muito bonito, sobre a lua e a saudade que Luzia sente do seu amado, com o acalento da amiga Terezinha:

"- Que bonito luar, Luzia. Dá vontade à gente de passar a noite em claro. Como está bem visível! São Jorge e o cavalo empinado. Dizia-me um tapuio velho da Serra Grande que a lua protege a quem quer bem. Quando uma tapuia gentia tinha saudades do marido ausente, olhava para ela, e lá lhe aparecia o retrato da criatura querida, ou nela casavam, conduzidos pelos olhares, as almas do par, separado por léguas de distância.

Luzia, maquinalmente, olhou para a lua a navegar serena no céu nítido, e pensou que, àquele momento, Alexandre também a contemplava, triste e só, por entre as grades do cárcere infecto." - Luzia-Homem, de Domingos Olímpio, pg. 101.

Falando de saudade e da vontade de estar perto, vai uma poesia minha, só para não dizer que não teve nada de meu nessa postagem:

Sempre Presente


Eu queria estar sempre presente
Nas suas horas de agonia,
No momento de calmaria,
Totalmente em sua vida.

Quero estar sempre presente
Nos seus sonhos e orações,
Quero estar em seus grilhões
De forma voluntariosa,
Pode ser impiedosa,
Mas quero estar sempre presente.

Quero te dar toda a atenção
E em meu coração
Você está sempre presente.
Para acabar com a solidão,
Para repetir-me à exaustão
Vou estar sempre presente.

CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: A fim de voltar - Tim Maia
LENDO NO MOMENTO: Pelos Olhos de Maisie - Henry James - Pg. 43 // As Religiões no Rio - João do Rio - pg. 101 / Amor a céu aberto - Flora Figueiredo - Pg. 40.

Boa Sorte

quinta-feira, 31 de março de 2011

Serenata Interrompida

Terminei hoje um texto que havia começado há uns dois anos. Saiu bem melhor do que se eu tivesse escrito naquela época!




Serenata interrompida



Fábio vacilou com a Karine. Traiu-a, foi visto, chegou atrasado no dia que foi argumentar alguma defesa e ainda deu um murro no cara que o denunciou. Então, para tentar reconquistá-la, só restava apelar para as cansadas atitudes 'romantiquinhas': fazer uma serenata.
O pelotão foi formado pelos amigos que sabiam tocar alguma coisa: Juninho no violão, André na flauta e Gabriel na meia-lua. Prometeu uma garrafa de pinga para os músicos e, o maior erro, deu-a antes do cortejo. Dizem as más línguas que eles já vinham melados de um boteco qualquer, receberam o bendito litro de Fábio e rumaram, bebendo, para a casa da donzela.
Antes de chegar à residência objetivada, eles já estavam falando aos berros, chamando a atenção de quem dormia. Já passava de meia-noite e quem não dormia, no mínimo, queria silêncio.
Em frente à casa da moça, o mais próximo possível da janela dela, prepararam-se para tocar, quando chega um vizinho, rapidamente.
- Ô Fabão! Faça isso não, macho!
- Que é isso, Arthur! Eu amo essa mulher, cara! Preciso dela novamente comigo!
- Fábio, tu já se perguntou sobre esse carro aqui na frente? O carro tá em frente a garagem da casa da tua ex-namorada.
- Não, macho! Ela tá com raiva de mim, mas ainda me ama, não tem outro cara com ela lá não...
- Bem, se eu fosse você não arriscaria.

Fábio e sua reca então decidiram ir embora, André começou a tocar “Lembranças”, de Nélson Cavaquinho, e sumiram da vista do vizinho solidário.

***

Meia-hora depois, o alarme antirroubo do carro estacionado na frente da casa de Karine é acionado por uma garrafa vazia de cachaça jogada no capô. Entre o som do alarme estridente e o barulho do litro se quebrando, ouve-se a correria e a gritaria de quatro bêbados vândalos. O dono do carro, que estava bebendo num bar lá perto, estava muito bêbado para correr atrás dos meliantes, olhou para seu carro, desligou o alarme com o controle e tomou mais uma dose.
Arthur, olhando pela veneziana da janela da frente, comemora intimamente por ter evitado a reconciliação do ex-casal. Agora, julga ele, terá mais chance com Karine, seu amor de infância.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Carne Negra - Seu Jorge e Farofa Carioca
LENDO NO MOMENTO: Luzia-Homem - Domingos Olímpio - Terminado / As Religiões no Rio - João do Rio - pg. 1 / Amor a céu aberto - Flora Figueiredo - Pg. 30.

Boa Sorte

quinta-feira, 24 de março de 2011

Poesia piegas relacionando a vida com a matemática

Bem, o título explica tudo que é essa poesia. Sei exatamente que amanhã eu vou ler isso e vou me arrepender de tê-la escrito e ainda irei taxá-la de meu pior texto. Nunca me aproximei tanto da autoajuda. Mas no momento era o que eu queria dizer, então pronto, foi!

Poesia piegas relacionando a vida com a matemática


Se as pessoas aplicassem em suas vidas
que a felicidade é o montante a ser seguido,
Elas entenderiam que,
independente do teorema utilizado,
o resultado do problema é sempre o mesmo.
A vida é cheia de cobranças, eu sei.
Mas tanto a vingança como a recompensa vêm com juros
e correção monetária.

CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Alento - Paulinho da Viola

LENDO NO MOMENTO: Luzia-Homem - Domingos Olímpio - Pg.87 / Amor a céu aberto - Flora Figueiredo - Pg. 28.


Boa Sorte

sábado, 19 de março de 2011

Versos de uma noite

A semana já estava fadada a não ter postagem, quando um grupo de amigos escritores salvaram este blog. Num bar chamado Dona Chica, na Av. da Universidade, entre cervejas e caipirinhas, ao som de sambas e mais sambas, fizemos estes dois poemas que apresento-lhes agora; um feito por mim, Zé Neto, Thiago César e Divino (título) e outro feito pela Tainan Fernandes (o que realmente prestou disso tudo).


Em

Se você soubesse
o que acontece
nos quartos de  quem anoitece,
nos quartos de quem padece,
saberia que a mente não obedece
o que uma noite interfere,
saberia que eu no quarto 'encandesce'.
Não duvide que outro sua vida entristece.


CA Ribeiro Neto; Zé Neto; Thiago César; Divino

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Se o beijo acontecesse
Se a vontade se firmasse
Se o desejo aparecesse
E se o amor se abismasse

Teria tudo acontecido
ou haveria tudo sumido
no embalo do sopro do vento do desejo?

Aconteceria o mesmo que o real cortejo?
Do bem-querer, o famoso estampido?
O 'nós dóis' haveria o tempo de ter querido?



Tainan Fernandes

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LENDO NO MOMENTO: Luzia-Homem - Domingos Olímpio - Pg. 20 / Um livro da Flora Figueiredo que eu não lembro o título, nem a página, mas eu juro que está muito bom! [já li 6 livros nesse ano!]

ESCUTANDO NO MOMENTO: Argumento - Paulinho da Viola


Boa Sorte

quinta-feira, 10 de março de 2011

Biografia sambada de um coração palhaço

Para finalizar o carnaval com chave de ouro - e muita cinza, também - uma crônica bem pessoal, cantada por muitos outros sambistas.



Biografia sambada de um coração palhaço



Meu coração frequentemente parece um choro do Pixinguinha. Frenético e melancólico como só meu coração e um choro de Pixinguinha sabem ser. A batida não pode parar, a velocidade é que muda, e muda bastante. É bandolim e flauta doce adocicando a caipirinha que é a minha vida. É tanto repique e tanto pandeiro cadenciando e descadenciando, pois são demais os perigos dessa vida.
Não sei vocês, mas parece que estou me guardando para quando o carnaval chegar e chorando, eu vi a mocidade perdida. Deixei a festa acabar, deixei o barco correr, deixei o dia raiar. Tão paradoxal quanto o amor de um bêbado com uma equilibrista, na minha caixa torácica de zinco, sem telhado, sem pintura, aguardo o juízo final. Afinal, o sol há de brilhar mais uma vez.
Sei que ainda é cedo e mal comecei a conhecer a vida, mas se quiser ser como eu, também terá que penar um bocado. Minha vida não é melhor nem pior do que a de ninguém. Minha busca sempre foi morar nos braços da paz, ignorando o passado que hoje muita coisa me trás. De lembrança, guardo somente suas meias e seus sapatos, coração, mas sem precisar excluir nada de minha vida – felicidade não precisa de culpa.
Existiria, assim, verdade? Só a verdade que ninguém vê: ao som desse bolero, vida, vamos nós! Vida!, descobri sem querer, Verdade!
Eu não sei porque choras, coração palhaço; desse jeito, diz a razão, colherá sempre tempestade. Infelizmente, mesmo, ninguém entenderia um samba naquela hora.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: A Sorrir (O sol nascerá) - Ney Matogrosso

LENDO NO MOMENTO: Meio intelectual, meio de esquerda - Antonio Prata - pg. 42 / Não contem com o fim dos livros - Eco e Carriere - pg 59 / Dom Casmurro e os Discos Voadores - Machado de Assis e Lucio Manfredi - cap. 122.

Boa Sorte.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Encantar-se

Uma crônica pequena, que eu decidi escrevê-la no ônibus entre o trabalho e minha casa. Pequena, não por falta de vontade de escrever, mas por ter esgotado tudo que eu tinha para dizer sobre o assunto. Um bom carnaval a todos.



Encantar-se



Vivo de encantar-me, a todo momento, e acredito que não sou o único por aí. Encantar-se por várias coisas e vários motivos impulsionam a vida, é lenha, é carvão. O encantamento pode ser por admiração, por respeito, pela vida e obra de alguém, pelo momento rápido de um simples desconhecido. Ele aparece sempre que sua sensibilidade é tocada de alguma forma.
Daí, já é de se presumir que é preciso estar apto a encantar-se. O objeto encantador não atinge a todos igualitariamente; pode ser indiferente para uns, avassalador para outros. E em outro momento as consequências podem ser inversas.
Há quem se encante tanto e tão facilmente, que criam superstições, que amam intensamente seres/objetos rapidamente. Não sei se vocês já passaram por isso, mas há aquele CD especial, da banda/artista especial, que a cada música que toca você a nomeia sua preferida. A última, então, levará vantagem!
Mas, sim, você pode encantar-se por várias pessoas. Tem as que você acaba de conhecer e já viram grandes amigos; tem as que você conhece há um tempão, mas só depois se encanta. Há aqueles que você só passa a se encantar, ou a encantar-se mais, quando conhece suas dores; e há aqueles que basta um olhar, uma roçar de pele, um sorriso cúmplice.
Encantar-se é decidir se vai dá uma esmola àquele pedinte ou não; se vai paquerar aquela gatinha ou não; se vai emocionar com a notícia de terceiro ou não.
Encantar-se não é amar, mas também não a exclui. Encantar-se é querer bem; é estar próximo e totalmente distante da inveja.
Aliás, a inveja não é seu oposto porque os dois tem a mesma fonte: o próximo. Mas a inveja é querer ser o outro, tomar o que é do outro. Encantar-se é de direita, é tradicional, é querer que tudo fique bonito como está.
Mas o encantamento é atemporal. Ele pode ser efêmero, fugir de nossas mãos – ou de nossas mentes –, assim como ele também pode ser eterno, durar anos, meses, dias. Essas delimitações humanas não servem para os sentimentos, e consequentemente, ao encantamento. Um encantamento de um dia pode ser eterno para mim, posto que também é chama.



CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Peito Vazio - Cartola - cantado por Ney Matogrosso.
LENDO NO MOMENTO: A alma encantadora das ruas - João do Rio - pg. 237 / Não contem com o fim dos livros - Eco e Carriere - pg 59 / Dom Casmurro e os Discos Voadores - Machado de Assis e Lucio Manfredi - cap. 120.

Boa Sorte