O Assalto Social
Ontem a noite fui roubado. Meu elemento temporal vai ser apenas “ontem” porque isso está tão comum, que sempre vai existir alguém roubado ontem. Mas foi um assalto curioso e engraçado, por isso não me agüentei e resolvi descrevê-lo.
Eu e Gurgel sempre fazemos esse trajeto porque estudamos num canto onde não há um único ônibus que passe lá e perto de casa ao mesmo tempo. Então sempre vamos andando ao ponto que passe um ônibus para casa.
Encontramos Rebeca e Romário, amigos que moram na mesma região, mas que sempre vão em vários ônibus e demoram mais de uma hora para chegar em casa, porque já foram assaltados antes na rua do fato que vou contar agora.
Eles não queriam ir com a gente, porque já tinham sido roubados ano passado e tal, mas eu e Gurgel insistimos, já que passávamos por ali todos os dias, e nada tinha acontecido, então eles acabaram nos acompanhando.
No meio do caminho, vem um carro em nossa direção, pára, desce dois homens, que logo em seguida se aproximam de nós, com um sorriso meio encabulado, dizendo:
Calma, calma! Vão parando aí, que isso é um assalto!
Na hora, eu nem pensei direito, e por isso não parei. Um deles se aproximou de mim e mostrou a arma que estava na calça, mas não fez movimento de pegá-la. Esse me revistou: sua mão direita foi no meu bolso esquerdo, que encontrou meu celular, o qual ele mesmo retirou do meu bolso; sua mão esquerda foi no meu bolso direito, onde estava a chave de casa e o mp3, mas ele não quis levar. Deixo bem claro que ele nem pegou na minha carteira, nem falou em dinheiro.
Eles também levaram o celular do Gurgel, mas não sei como foi o processo de roubo do aparelho. Da Rebeca não levaram nada. Do Romário, pegaram o vale transporte eletrônico, acho que pensaram ser um mp4, mas quando o larápio viu do que se tratava, jogou no chão dizendo:
Toma o passe-card!
Nisso, eles já estavam correndo de volta pro carro. No meio do caminho, um deles ainda gritou “Desculpa”.
Não fiquei com raiva, ou chateado. Não vou falar agora daquele papo besta de que eles são vítimas da sociedade desigual e do sistema excludente. Pobreza para mim, não é desculpa para assalto. Até porque eles tinham um carro, eles podiam muito bem fazer um carrinho de cachorro quente, vender roupa barata numa feira, ou qualquer outra coisa digna como essas que eu citei. Honestidade não é definido pelo status social.
Mas não fiquei com raiva, nem chateado, porque foi engraçado, poxa! Eles foram gentis com a gente! Pensem bem, eles chegaram nos acalmando; mostraram a arma, só porque eu não quis parar, e mesmo assim não fizeram gesto de usá-la; só levaram os celulares, que convenhamos, não é essencial; devolveram o passe-card, porque sabiam que era o meio do Romário voltar para casa; e pediram desculpas no final. Isso é um Assalto Social! Eles estão preocupados com suas vítimas! Pensei em pedir um cartão fidelidade, ou algo assim! Porque se é para ser assaltado de novo, eu quero que seja com eles!
.Carlinhos Ribeiro.
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* Sem novidades
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Dove ho visto te - Jovanotti - Safari
PENSANDO NO MOMENTO: Neste "sem novidades"
Boa Sorte