A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Jairo e Flor

'Diferentes ângulos de uma conquista' chega ao seu final, com um texto em terceira pessoa, mostrando uma relação sem posicionamento masculino e feminino. 


Jairo e Flor


Jairo tem várias manias. Isso nunca lhe incomodou de fato, mas também ele não esperou conseguir nada através delas.

Uma de suas manias favoritas era ir ao cinema sozinho. Todo domingo ele ia a um cinema menos popular, chegava, lia um livro enquanto espera a sessão – Jairo sempre andava com um livro na mão –, assistia ao filme escolhido e depois ia embora. Assim, sem rodeio.

Num domingo, ele ia, atrasado, no ônibus, até o cinema costumeiro. Tudo estava nos conformes do ritual tradicional dominical, até que senta ao seu lado uma flor. Ela se senta lhe olhando, com um sorriso hiper simpático, ele responde com um sorriso tímido e fala, mentalmente, consigo.

- Que sorriso lindo, Meu Deus! Mas que diabo de sorriso foi esse de minha resposta? Pelo amor de...

Ele foi interrompido pelas seguintes palavras da flor ao lado:

- Desculpe-me, mas você pode me dizer em qual parada eu desço para ir ao Cine César Almeida?

- Ah, sim! Pode deixar que também estou indo para lá! Descemos juntos – respondeu ele, tentando retribuir agora, o sorriso no tom certo.
- Ah, obrigado! É que andei muito tempo presa a estudos, tédio e traumas, então não conheço muito esses lugares interessantes.
- Ahan, mas tenho certeza de que irá adorar o formoso Almeidinha! Lá não é muito movimentado, mas tem um ótimo ambiente! A próxima parada é a nossa. Vamos?

Desceram do ônibus e foram em direção ao cinema. Como era próximo, não cabia uma pergunta de resposta grande, então Jairo foi no básico.

- Meu nome é Jairo. E o seu?
- Flor! Prazer!
- Não acredito! Foi exatamente numa flor que pensei quando você sentou ao meu lado! Por favor, não entenda isso como uma cantada! (mas acabou sendo!)
- Tudo bem! Não entendi dessa forma, não! (mas é claro que foi!)


Na bilheteria, foram informados de que estava faltando energia naquela parte da cidade e que, caso resolvessem esperar, o filme iniciaria assim que a luz do local retornasse. Diante do imprevisto, Jairo convidou-a para um sorvete e foi prontamente respondido positivamente.

Os dois vão à sorveteria ao lado do cinema, pedem o sorvete, ele faz questão de pagar e depois eles vão à uma mesa. Flor recomeça a conversa.

- Você vem sempre a esse cinema?
- Todo domingo! É como se fosse uma de minhas atividades semanais.
- E onde está a sua companhia?
- Não, não! Sempre venho sozinho! Amizade não me falta, é questão de gosto mesmo!
- E eu pensei que era uma louca em vir ao cinema sozinha! Convidei umas amigas, mas todas disseram não! Para elas, cinema dá sono!
- Já escutei coisas desse tipo também. Mas eu, pelo contrário, me envolvo quando o filme merece. Já chorei, já bolei de rir, já explodi de raiva. Talvez por isso, prefiro vir ao cinema sozinho, para me sentir somente eu e a tela grande!
- Que massa! Eu não conheço muito de cinema, como te falei, estive enclausurada por dentro e por fora de mim... mas não vamos falar sobre isso!
- Concordo! Mas é interessante você falar que esses problemas te afastaram de divertimentos como o cinema. Eu, quando estou muito triste, sinto mais vontade ainda de sair. Pra mim, ficar em casa só piora as coisas!
- Bem urbano, você, hein? – risos – aposto que estuda Arquitetura!
- Errou feio! Psicologia!
- Hum! Deve ser um curso maravilhoso! Eu entrei agora em Ciências Sociais, em Agosto começam minhas aulas!
- Massa! É de algum partido político?
- Não. E nem tenho pretensão de ser! Complicaria meus estudos!
- Isso é verdade. Mas também é preciso seguir uma linha de pensamento de estudiosos de sua área.
- Tem razão, mas deixemos pelo menos eu começar o meu curso!
- De acordo! – breve, minúscula, pausa – Que filme pretende assistir hoje?
- Aquele trash... esqueci o nome... do diretor Thiago... Ah, esqueci o sobrenome dele também. Mas é aquele da cabeçona!
- Sei, sei. Dizem que ele é pragmático demais, mas não acho que isso se reflita em seus filmes. Eu ia assistir um drama sem pé nem cabeça, mas se não se incomodar com minha presença, posso assistir esse filme do Thiago com você!
- Eu adoraria! Mas não é você quem gosta de assistir filmes sozinho?
- É! mas quando a companhia é boa, eu abro uma exceção.

Sorriram-se, no tom certo. Jairo adorou o jeito eufórico dela falar, já Flor, ficou embebecida com o volume de palavras dele.

Constataram que a luz voltou àquela região. Subitamente olharam-se, entenderam-se e beijaram-se e foram andando para o cinema de mãos dadas.



CA Ribeiro Neto
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 * Próxima semana, falarei sobre as eleições, seja o resultado que vier! hehe
 * Tudo tranquilo.
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Choro Negro (Paulinho da Viola)

LENDO NO MOMENTO: Cemitério dos Vivos - Lima Barreto - pg. 186 (agora com uma nova edição que ganhei de meus colegas de trabalho!) // Ladrão de Cadáveres - Patricia Melo - cap. 5.

Boa sorte.

2 comentários:

Pedro Lindão disse...

Sem querer ser chato, mas já sendo, eu acho que você tem contos BEM MELHORES que esse!

Muito embora eu tenha gostado e, confesso, fiquei enciumado, com a ESPETACULAR homenagem ao ÇOTIM!!

peeeeeeeeense!

Zé Soares Neto disse...

gostei do romance... e fiquei envolvido.