A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Era para apenas rir

Finalizando a série 'Sociedade', a crônica que mais gosto de ter escrito até então. 'Era para apenas rir' nasceu de um sábado pela manhã, onde eu ainda estava pensando em meus estudos sociológicos. Assisti ao vídeo 'Os Quíntuplos de Pluto' e me inspirei. Quem quiser assistir o desenho antes ou depois de ler o texto, aqui está: http://www.youtube.com/watch?v=0bScekBVnY8
Próxima semana começo a série 'Músicas a espera de músicos' com uma lista de letras de músicas que fiz, mas como abandonei a música profissionalmente, elas ficaram inutilizadas.

Era para apenas rir


Não sei o quanto meus estudos políticos e sociológicos me fazem mal ou bem, mas as vezes acho que exagero. Dia desses, eu estava assistindo a um desenho da Disney na TV. Pluto, sua companheira e seus cinco filhotes são as personagens do desenho.

É bem verdade que o episódio foi criado em 1937, ou seja, depois da Quebra da Bolsa de Valores e antes da Segunda Guerra Mundial, mas eu vi muitas referências do que foi a destruição da ideologia do Estilo de Vida Americano, que começou no Crack da Bolsa, mas que só se configurou realmente tempos depois, no movimento de contra-cultura (hippies, feminismo, entre outros).

Vamos ao filme 'Os Quíntuplos de Pluto'.

O filme começa com os cinco filhotes dormindo e os pais em momento de afeto. Quando passa um senhor com lingüiças à mostra. Então que, depois de uma pequena confusão, a cadela, autoritariamente, manda que seu “marido” fique em casa, cuidando das “crianças” enquanto ela iria atrás da comida.

Percebe-se aí, dois pontos importantes. O primeiro seria o autoritarismo da mulher, que até então não existia, e o segundo, a saída da mulher para sustentar a casa. Quebrando então, as bases da família patriarcal.

Daí, que o pai fica em casa para cuidar, desastrosamente, das crianças. A pouca desenvoltura, juntamente com a falta da devida atenção, faz com que as crianças consigam fugir e começam a seguir uma minhoca – aí vejo, pelo menos em minha mente, uma referência à cobra da história de Adão e Eva, que não faz diretamente os primeiros humanos errarem, mas leva eles para tal caminho – e assim, a minhoca guia-os para um caminho que os leva à escuridão – existe algo mais escuro do que porão? Pois é lá que eles entram!

Lá dentro, eles se deparam com uma mangueira – bem maior do que uma minhoca, mas que age como uma cobra também – que exala algum tipo de gás. A mangueira apavora os filhotes e, passando perto de algumas tintas e outros objetos, acaba pintando cada um de cores e de formas diferentes.

Veja que, no Estilo de Vida Americano tudo era meio que padronizado. E os jovens não tinham muitas opções de escolhas e acabavam por ser todos parecidos, na forma de pensar e de agir. Com essa ideologia derrubada...

Voltando ao desenho, o pai, escutando o barulho vindo do porão, corre para salvar os filhos, mas se mete em muitas confusões até cair embaixo de uma garrafa de bebida alcoólica que derrama caprichosamente seu conteúdo na boca de Pluto. Vale lembrar que ele também se sujou com a tinta, não completamente como os filhos, mas em partes consideráveis e de várias cores diferentes.

Quando a mãe volta para a casa com o fruto do seu trabalho, encontra seus filhos diferentes do que eram e o marido alcoolizado. Ela repudia-os, evita a aproximação deles e expulsa-os de casa. Nada mais igual do que as mães que passam o dia fora de casa trabalhando, não sabe da vida e da rotina dos filhos e desentendem-se e divorciam-se do marido.

Acabando o filme assim, deixo claro que não quero dizer que o autor do roteiro desse desenho estava querendo passar alguma mensagem, ou que ele profetizou em alguns momentos. Realmente cogito a hipótese de ser apenas uma coincidência. O fato é que ele, talvez sem querer, talvez inconscientemente, talvez propositalmente, descreveu características da sociedade em que ele vivia, e mais, acabou acertando elementos da sociedade futura.

Hoje, pensando naquele dia, percebo que fiquei com uma ótima idéia na cabeça e nenhum sorriso no rosto.


CA Ribeiro Neto
------------------------------

* Agora Professor de português, história, geografia e redação na Escola Vila (preparatório para o IFCE - antigo CEFET-Ce).
* Fora isso, tudo em sua normalidade.
* www.aondeeuestavamesmo.blogspot.com foi atualizado, por favor, leiam o maravilhoso texto de Fau Ferreira.
------------------------------

ESCUTANDO NO MOMENTO: Quintais, O meu aboio - Gonzaguinha
Boa Sorte

6 comentários:

A moça da flor disse...

gosto dessa!
também tenho disso de ficar formulando teorias por detrás de coisas aparentemente bobas ou simplesmente cômicas.

que bom que a normalidade lhe faz parte...
fico feliz.

fiz um samba...
o samba pro neguinho
depois te mostro

beijos

Freddy Costa disse...

Carlim...
Estuda menos, vá lá!!! Hehe
Tá igual o Yuri, que jura de pé junto que o Brasil vendeu a copa de 98!! Tudo armação!! Hehehe

Thiago César disse...

eh, às vezes tu exagera...

Marcella disse...

Adorei, Carlinhos. Adorei o post.
Você realmente se destaca em cronicas, brilha muito mais do que em contos, se permite o comentário.
Minha opinião, claro.

Quanto ao post em si, ainda tem outro ponto. Se bem não me engano, o feminismo começava a se estabelecer, não é? Fui inclusive conferir a informação na wikipédia. hehehe. Porque fiquei insegura. Ele diz que os movimentos haviam começado mas as conquistas limitaram-se ao direito d voto e etc... não discutindo sobre isso: o desenho do pluto é comédia, então querendo ou não, pode ter sido uma crítica a idéia que algumas mulheres começavam a querer defender. Tinha outras coisas em mente mas fiquei presa aos caracteres...

Hermes disse...

Ora, eu não achei essa crônica esticação de baladeira, pois o autor não está fazendo nada além de interpretar um desenho. Se ele consegue fazer uma ligação bastante coerente, não faz mais do que usar seus conhecimentos histórico-temporais na interpretação. Em primeiro lugar, devo citar que não sei muito bem sobre o modo de vida americano, mas conheço a esteriotipagem do jovem típico americano dessa época, que me dá nos nervos - não vou entrar em questões morais, mas que é um saco, é sim. O que me pareceu um pouco estranho é que o desenho é de 30 e pouco, mas a contra cultura já é bem depois. Mas isso pode ser explicado pela sua possível "previsão" do criador do desenho. Uma coisa que me pareceu um pouco exagero, ou uma grande perceptividade - chame como quiser - foi a da minhoca. Ora, imaginar que a minhoca é a serpente bíblica, hehe, foi criativo. Mas essa questão da minhoca só foi fazer sentido quando foi relacionada com a mangueira, qeu também age como uma serpente.
Enfim, o que o criador dessa história quis dizer, não é papel nosso falar. E sim dele, talvez ele nem saiba - isso é arte. Um esforço de mostrar a sociedade em que ele vive é bastante plausível, mas não deixa de ser uma produção artística. E não somos estudantes de letras! hehe. Eu acho que o que você escreveu faz coerencia porque justamente não se pode fugir da sociedade em que vive, e suas ações são de acordo com o meio socio-cultural que se vive. Ora, se eu estou em um lugar onde alguns valores estão sendo mudado, isso vai pegar em mim, mesmo que de forma incosciente vou acabar citando isso em alguma ação minha. Mas bem, não estou fazendo psicologia, e sim ciências sociais, então paro por aqui. Sobre você ter ficado com uma boa ideia e nenhum sorriso no rosto, isso me lembrou uma citação do Erasmo de Roterdã, do Elogio Da Loucura: Quanto maior a inteligência, maior a infelicidade.

Abraço Carlota. Boa sorte nos ensinos!

Pedro Gurgel disse...

deve ser por isso que nunca vejo graça nos desenhos da Disney... Estão sempre retratando algo assim... Quer prova maior do que o Pluto e o Pateta?


p.s.: nós somos o Pateta!

p.s.s.: e o pior é que era pra fazer rir!