A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Flora Figueiredo de sobremesa


Flora Figueiredo foi um achado. Indicado pela minha amiga Deniz, escolhi um livro dela na estante aleatoriamente e estou lendo em doses lentas, mas saborosas – este livro é uma goloseima e não um remédio. Entro na Livraria Cultura dez minutos mais cedo do que deveria voltar do horário de almoço, sento numa poltrona e leio alguns poemas do livro 'Amor a céu aberto'. Muitas poesias perfeitas, outras medianas, e uma ou outra que eu tentei, mas não consegui entender, confesso. Flora Figueiredo virou minha sobremesa, se vamos comer Caetano, deixem-me saborear Amor a céu aberto e lamber os dedos. Destaco agora a que mais gostei dela:


TRANCOS, PLANÍCIES E BARRANCOS


Terrenos acidentados e planos
vêm escrevendo a minha história.
Alguns danos sei de cor,
outros, a memória jogou fora.
Dos sucessos, guardo agora
fitas, flores e fatos,
sorrisos no porta-retratos,
um rosto suando conquista.
(Página dupla pra qualquer revista.)
Envelheço em todo fevereiro,
que prefiro receber de frente,
que costumo sentir de corpo inteiro.
Quando chegar minha data final,
que se transcreva exatamente igual
em minha cripta:
"Intensamente, amou e viveu.
Felizmente não morreu invicta."


Flora Figueiredo,
no livro Amor a Céu Aberto


Ela tem um jeito único e bem feminino de escrever sobre tudo. A vida é difícil para todos, não adianta comparar, o interessante é como olhar para os trancos, planícies e barrancos. “Página dupla para qualquer revista”, pois a vida não é um livro, que trata de basicamente um assunto, ela comporta vários e ao mesmo tempo.
Também prefiro receber de frente o que costumo sentir de corpo inteiro. Afinal, adrenalina no corpo é sempre bom, não acham? Digo, as vezes o que causa a liberação do hormônio pode ser a fuga de um cachorro bravo, uma briga na fila do banco ou o primeiro beijo do garotinho, mas, olhando isoladamente, é bom sentir a adrenalina percorrendo nosso corpo inteiro – e é preferivelmente bom que o primeiro beijo seja de frente ao correspondente também!
Intensamente amar e viver é jogar; e quem joga está passível de erro e de derrotas. Passar por isso invicto seria não aprender nada, seria não sentir adrenalina.
Felizmente li Flora Figueiredo.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Não fale desse jeito - Ana Carolina
LENDO NO MOMENTO: Pelos Olhos de Maisie - Henry James - Pg. 206 // As Religiões no Rio - João do Rio - pg. 126 / Amor a céu aberto - Flora Figueiredo - Pg. 68.

Boa Sorte || ApontArte

4 comentários:

Thiago César disse...

eh quase um post do apontarte...

lucas lima disse...

Não conhecia Flora(me lembre uma das musicas do Gil), felizmente à conhecia por um texto seu, essa forma bem escrita sobre a vida sempre é alibi, benditas poltronas da Cultura.

@rahribeirox disse...

poxa que legal, não a conhecia! e concordo, quem não gosta de sentir um pouquinho de adrenalina, não é verdade? ;D
qualquer dia desses vou lhe visitar denovo na Cultura!

Musa disse...

Também, não conhecia a Flora, este poema dela é lindo!!!

Um abraço,