A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Carta-cantada, e outras segundas intenções.

Cartas estão fora de moda, mas porque não revivê-las? Se o objetivo é a comunicação, fale por elas e pelas entrelinhas. Carta-cantada é um conto que escrevi com o pseudônimo Wallace Lago e que saiu do meu livro 'Desenho Urbano' aos 45 do segundo tempo.




Carta-Cantada



Com licença, mas, observando-a, tenho a impressão de que você é muito inteligente. Exatamente por isso, que me utilizo deste papel, para saber se estou à altura. Se minha dedução estiver correta, você, como mulher inteligente, deve se interessar por pessoas de mesma qualidade.

Você deve estar achando estranho essa carta-cantada, porque o que eu escrevi até agora, nem mostrou se sou inteligente, como também não demonstrou nenhuma palavra de conquista, então irei começar.

Quando a vi chegar no cinema, sentar relativamente próxima à cadeira em que eu estava, colocar os óculos e rodar a vista em toda a sala de projeção até pará-la em mim, percebi que me deparava em um momento único. Senti-me atraído por você só de te olhar, mesmo sem conseguir distinguir seu rosto e seu corpo. As únicas coisas que eu conseguia visualizar era seu loiro cabelo, sua roupa preta, seu jeito de se movimentar e, principalmente, de olhar.

Inclusive, esse último, foi o que mais chamou a minha atenção. Um olhar diferenciado, que demonstra não estar procurando algo, mas deixa claro que não lhe permitiria escapar nada. Um olhar lúcido, de segurar os pés no chão, mas também servia como âncora para os sonhos e para a paixão.

Um olhar filtrador, que não deixaria o caminho aberto para qualquer marmanjo, permitiria apenas os que julgasse dignos de oportunidade.

Logo após esse nosso cruzamento de olhares, o filme começou. Não fui conversar com você nesse momento, porque não queria atrapalhar o seu momento de distração, mas depois notei que a minha espera não adiantou, pois você não parava de olhar para trás (sempre esse seu olhar...). À partir desse fato, eu indago: quem de nós dois prestou mais atenção no filme? Se a resposta for o meu nome (César Alves), aconselho-te a me responder agora!


Wallace Lago

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Falando em cartas, indico uma música antigona, revivida por Luiz Melodia, no álbum Estação Melodia: Recado que Maria Mandou.

Indico também o conto 'A Carta', do mestre Moreira Campos, incluso no livro 'Dizem que os cães vêem coisas' [Não encontrei link para o texto].

Indico também um outro texto meu, há muito tempo postado: Um texto rápido para desabafar.

CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: A mais bonita - Chico Buarque
LENDO NO MOMENTO: As Religiões no Rio - João do Rio - pg. 174 // Inimigos - Pedro Salgueiro - pg. 49

Boa Sorte || ApontArte

4 comentários:

Hermes disse...

Olha aí, eu já tinha lido! E tu mudou alguma coisa, porque se eu não me engano, não tinha esse César Alves no que eu li. E como assim, o nome é César Alves? Ele mentiu para a moça? EHUAHEA. Guto, engraçado desse texto é que eu sempre tenho a impressão que é uma carta canção, demoro para associar o cantada nesse sentido, mesmo sabendo que assim o é! E acho que ele mesmo sendo inteligente, as motivações para dar uma cantada são as mesmas, todos inventam que a pessoa é especial e falam dos olhos, os olhos, principalmente os inteligentes!!! Mas gosto do Wallace Lago, pena que ele nunca vai superar o Vadinho!

lucas lima disse...

De cara vi esse nome César Alves, venho-me a cabeça algo sobre musica, mais precisamente algum cantor, talvez essa seja a intenção, não pelo próprio nome mas pelo cantar o texto. A soberana distração da mulher e a mulher por outras coisas.

Depois me comente o que está achando do livro do Pedro.

Thiago César disse...

soh nao entendi como ele conseguiu o endereço dela... hehe!

Paulo Henrique Passos disse...

Ah os olhos, ou melhor, o olhar!

E só depois que o Hermes falou aí em cima é que eu me toquei do "cantada" em outro sentido. Passei o texto procurando algo musical... heheheh