A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Metendo ou levando peia

Mais um texto com histórias do meu Ceará! Se você tem algo para me corrigir, não pense duas vezes, faça!



Metendo ou levando peia



Cearense é bicho inquieto mesmo. Sempre diminuído pelos outros, mas sempre marcou a história com a valentia e a habilidade de fazer algo diferente. Tratarei nesta crônica das batalhas cearenses e de como os desfechos foram sempre tristes, mas inusitados.
Canudos, a história contada por Euclides da Cunha, em Os Sertões; e por Vargas Llosa, em Guerra do Fim do Mundo, é bem conhecida e todo mundo sabe seu desfecho. O exército brasileiro chegou matando todo mundo, incluindo velhos, mulheres e crianças, sob a justificativa de eliminar uma sociedade comunista.
Tudo começou com um cearense, de Quixeramobim, Antonio Conselheiro, que saiu peregrinando pelo sertão e foi seguido até o interior da Bahia. Lá eles pararam, montaram suas barracas, produziam o que podiam em conjunto e o que não podiam, compravam, também em conjunto. Foi o suficiente para serem acusados de comunas. Os agricultores tiveram que se armar com o que podiam e resistiram bem, até que chamaram o capitão não sei das quantas, veterano da Guerra do Paraguai, para acabar com a “baderna”. Foi sangue, negada.
Confederação do Equador, alguns estados nordestinos se reuniram e queriam se desligar do Brasil. Entre os líderes, Frei Caneca. Essa força revolucionária, se eu não me engano, chegaram a tomar posse do Ceará e do Rio Grande do Norte, mas depois não resistiram ao fogo do exército brasileiro e não obtiveram sucesso.
A pena para Frei Caneca: fuzilamento na praça do Passeio Público. O procedimento normal seria sete soldados atirarem no alvo ao mesmo tempo, cada um em um ponto vital para que a “culpa” não ficasse numa pessoa apenas. Mas o Frei tinha moral, e ninguém queria atirar nele, então cada um dos sete soldados tiveram a ideia de não atirar e deixar o “criminoso” morrer com 6 balas letais. Resultado foi que o patente-superior-de-porcaria deu vários gritos de fogo e ninguém atirava. Teve ele que pegar sua arma e atirar somente uma vez para matar o cabra bom cearense.
Engraçado é que estou falando de religiosos liderando movimentações que geraram muito sangue, mas nada se compara a Padre Cícero. O Padim, que estava doido para ir na política, escondeu o ex-governador em Juazeiro do Norte, que estava sendo procurado. A polícia veio atrás deste último e o Cição não deixou; incitou a população a pegar em armas, que não deixaram ninguém entrar na cidade, fizeram os policiais fazer carreira, que batiam os calcanhares em suas próprias bundas. O padre aproveitou a situação e, dizem os livros de história, rumou com a população para Fortaleza, para tomar o poder. Assim o fez e se tornou Vice-Governador. Pacífico, né? É, é santo...
Mas loucura mesmo foi o caso da fazenda Caldeirão. Com a fama do Padre Cícero correndo muito, várias pessoas do nordeste inteiro vinham para perto dele. Assim, o Cariri ficou repleto de moradores de rua. Um grupo foi pedir ajuda ao Padim e, como ele tinha uma fazenda desocupada, este disse que eles poderiam ir para lá e trabalhar na terra. Como ele tinha ganhado uma vaca de um fazendeiro, aproveitou e disse para eles cuidarem da sua vaquinha. Pra quê? Começaram a endeusar essa vaca. Ganhava tudo do bom e do melhor.
O exército brasileiro, mais uma vez, achou que isso era coisa de comunas e sentou o pau. Sendo que eles tinham um brinquedo novo e resolveram usar só para não enferrujar: aviões de guerra. É isso mesmo, eles bombardearam uma fazenda cheia de brasileiros que só queriam viver na fazenda do seu líder. Mas foi peia, teve até uma resistência, mas não dava para comparar as forças e os recursos.
Mas esse negócio de lutar vem desde bem antes, o Siará foi uma das últimas capitanias hereditárias a serem colonizadas porque os índios daqui eram muito valentes. Holandeses e franceses bem que tentaram dominar o local, mas os bugres fizeram eles pedirem pinico. Os portugueses só conseguiram se chegar devagarinho por causa de acordo realizado entre as duas partes. E só para não falar de religião, esse cessar fogo teve a mediação dos jesuítas Francisco Pinto e Pereira Filgueira.
Só para polemizar o final: catolicismo e batalhas, coincidentemente entrelaçados?


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: Gil Luminoso - Gilberto Gil
LENDO NO MOMENTO: Brincar com Armas - Pedro Salgueiro - Pg. 69 // A condessa sangrenta - Alejandra Pizarnik - pg.25


Boa Sorte || ApontArte

3 comentários:

Virgínia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lucas lima disse...

é incrível que o que o meu avô diz, se confirma a cada leitura: "o Ceara é para o Brasil o que o Brasil é pro mundo".

Thiago César disse...

interessante crônica!

mais uma vez, precisando alfinetar o catolicismo pra se dizer distante dele, né carlim! hehehe.... eh isso mesmo!
mas nao eh soh a religiao catolica que está vinculada a batalhas, nao mesmo!

jah q falou em correção:
"... os desfechos foram sempre tristes, mas inusitadOs." (1º parágrafo);
"... movimentações que GERARAM muito sangue..." (6º parágrafo).