A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mistura-se dois vícios

Bem, continuando a minha saga brega, faço mais um conto adaptado de uma música. Desta vez vamos de Bartô Galeno e a música "No Toca-fita" [segue a letra e o vídeo da música aqui]




Mistura-se dois vícios



No toca-fita do meu carro, uma canção me faz lembrar você. A noite, que tantas vezes sorriu, minguante, para mim, hoje é triste, uma lua nova, como a dor que nunca tinha sentido antes. Cansado de beber sozinho, de escutar a alegria alheia, tinha resolvido ir para outro lugar, que não fosse a casa que guarda a cama que antes era nossa.

Entro no carro para depois pensar aonde ir, daí ligo o toca-fitas. Não me lembrei de nenhum canto legal para se curtir sozinho, minha diversão era conjunta, contigo. Tento me lembrar de algo que eu fizesse sem ti e só me recordei do cigarro pós-sexo. Acendo um, na tentativa insana de tentar pensar em alguma outra coisa, em vão, o cigarro era melhor quando se transava antes, conjuntamente, contigo, antigamente.

Olho para o banco ao lado, passo a mão, querendo sentir sua pele, resgatar os resquícios que ainda possa haver de seu cheiro. Mistura-se em meu olfato a fumaça do cigarro e a lembrança do seu aroma. Dois dos meus vícios confrontam-se nesse momento.

Desisto de tentar te esquecer por hoje, procuro no porta-luvas o que tiver para saciar a saudade, encontro um lencinho, branco mas amarelado, com um bordado, uma qualidade entre suas prendas. Com um entrançado de linhas, nossos nomes na cor de vinho, afinal, era a nossa cor, o tom dos seus cabelos, a cor das camisas que você dizia que combinava comigo.

Não sei se é o trago, mas há algo travando a minha garganta. Aliás, agora que estou sozinho, eu posso chorar.


CA Ribeiro Neto
-x-||-x-


ESCUTANDO NO MOMENTO: Plano de voo - Gonzaguinha
LENDO NO MOMENTO: Tocaia Grande - Jorge Amado - pg. 412 || A Normalista - Adolfo Caminha - pg. 64.


Boa Sorte || ApontArte

7 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante, o que ocorre com esse sujeito é o que a gente chama de "perca de personalidade". Quando namoramos, ou ficamos muito tempo com alguém e a relação é a clássica, acabamos não sabendo ser só, não sabendo se divertir só, sem conseguir fazer muita coisa que não precise da companhia da outra pessoa. E é graças a isso que existem a maioria das músicas de bregas, e claro, graças às traições.

Zé Soares Neto disse...

Agora teu conto canta... hehehe Legal colocar música no conto e a melodia dela vai durante todo o canto... Gosto de Música e em conto então... Fico lembrando de músicas e momentos... Belchior cantando Comentários a respeito de John rolando num rádio no Motel, por exemplo!

Tainan Fernandes disse...

Muito boa leitura. :)

nádia c. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
nádia c. disse...

"Não sei se é o trago, mas há algo travando a minha garganta. Aliás, agora que estou sozinho, eu posso chorar."

Daqueles finais que doem.

lucas lima disse...

Muito sentimentalista!

Unknown disse...

Bela releitura.