A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 10 de março de 2011

Biografia sambada de um coração palhaço

Para finalizar o carnaval com chave de ouro - e muita cinza, também - uma crônica bem pessoal, cantada por muitos outros sambistas.



Biografia sambada de um coração palhaço



Meu coração frequentemente parece um choro do Pixinguinha. Frenético e melancólico como só meu coração e um choro de Pixinguinha sabem ser. A batida não pode parar, a velocidade é que muda, e muda bastante. É bandolim e flauta doce adocicando a caipirinha que é a minha vida. É tanto repique e tanto pandeiro cadenciando e descadenciando, pois são demais os perigos dessa vida.
Não sei vocês, mas parece que estou me guardando para quando o carnaval chegar e chorando, eu vi a mocidade perdida. Deixei a festa acabar, deixei o barco correr, deixei o dia raiar. Tão paradoxal quanto o amor de um bêbado com uma equilibrista, na minha caixa torácica de zinco, sem telhado, sem pintura, aguardo o juízo final. Afinal, o sol há de brilhar mais uma vez.
Sei que ainda é cedo e mal comecei a conhecer a vida, mas se quiser ser como eu, também terá que penar um bocado. Minha vida não é melhor nem pior do que a de ninguém. Minha busca sempre foi morar nos braços da paz, ignorando o passado que hoje muita coisa me trás. De lembrança, guardo somente suas meias e seus sapatos, coração, mas sem precisar excluir nada de minha vida – felicidade não precisa de culpa.
Existiria, assim, verdade? Só a verdade que ninguém vê: ao som desse bolero, vida, vamos nós! Vida!, descobri sem querer, Verdade!
Eu não sei porque choras, coração palhaço; desse jeito, diz a razão, colherá sempre tempestade. Infelizmente, mesmo, ninguém entenderia um samba naquela hora.


CA Ribeiro Neto
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ESCUTANDO NO MOMENTO: A Sorrir (O sol nascerá) - Ney Matogrosso

LENDO NO MOMENTO: Meio intelectual, meio de esquerda - Antonio Prata - pg. 42 / Não contem com o fim dos livros - Eco e Carriere - pg 59 / Dom Casmurro e os Discos Voadores - Machado de Assis e Lucio Manfredi - cap. 122.

Boa Sorte.

5 comentários:

dança dos erros disse...

quando eu li esse texto, eu nao conseguia parar de ler, fui tendo alguns espasmos de uns sambas tao consagrados quanto melancolicos ;x
sei nem que dizer, muito bom, angustiado, parece com o meu jeito de escrever, em corretenza, nao dá tempo vc parar pra pensar em nada, é o fluxo de um córrego, apoiado em grandes cançoes e por isso e pela habilidade e lembrança do escritor ai, um texto dos bons! quase as cinzas de um carnaval...triste, mas ainda aquece, queima a gente

Herbenia Freitas Ribeiro disse...

quando eu li esse texto, eu nao conseguia parar de ler, fui tendo alguns espasmos de uns sambas tao consagrados quanto melancolicos ;x
sei nem que dizer, muito bom, angustiado, parece com o meu jeito de escrever, em corretenza, nao dá tempo vc parar pra pensar em nada, é o fluxo de um córrego, apoiado em grandes cançoes e por isso e pela habilidade e lembrança do escritor
*ai, um texto dos bons! quase as cinzas de um carnaval...triste, mas ainda aquece, queima a gente

A moça da flor disse...

adoreiii o "mix" hehe
minha música favorita na voz da Narinha tá aí tbm!!!
Bem tu esse texto (inédito isso).
Delicioso de ler (pra variar).
Bom matar um pouquinho das saudades de ti nesse texto (ou aumentá-las)
Beijo, Neguinho.

Thiago César disse...

nao tenho referencia de samba o bastante pra curtir todo o texto, mas parece estar bem feit... hehe!

A moça da flor disse...

eu percebi mesmo a semelhança na temática e do equilibrista também, mas nem sei pq não comentei com você.
acho que estamos em confluência esses dias. Hehe
Beijo Nego sem vergoin.