A dança da alegria

A dança da alegria - CA Ribeiro Neto

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Xerox de uma certidão de óbito

'Xérox de uma certidão de óbito' é uma das minhas crônicas mais recentes, ela que fecha o meu livro. Não tem muito o que explicar, pois a crônica já é auto-explicativa. A série 'O recado está dado' continua na próxima semana, agora com textos que não estão no livro.


Xerox de uma certidão de óbito



Comprei um borrão da xerox aqui perto de casa. Ao invés deles jogarem fora as folhas que por algum motivo a cópia xerocada não ficou boa, eles fazem uns borrões com as folhas de ofício e vendem a um preço razoável. Como é só para meus rabiscos sem importância, o papel também não precisa ser cheio de frescura.

Curioso que sou, fui folhear o borrão, mas olhando o que estava xerocado do lado que certamente eu não iria escrever nada. Entre páginas de livros, de documentação em geral, uma me chamou especial atenção: uma certidão de óbito.

O cara era paraguaio, tinha residência em Goiânia, mas morreu aqui em Fortaleza. Siderúrgico, casado, quarenta e sete anos e não tinha nenhum pertence materialmente de valor. Morreu atropelado numa avenida federal.

Impossível não pensar no que esse cara fazia por aqui! O que será que ele veio fazer por Fortaleza e acabar morto assim? É certo que aqui não há siderúrgicas, então não veio a trabalho. Pode ser que ele tenha vindo por alguma coisa ilícita. Vai que o cara é matador de aluguel nas horas vagas, ou devia uma nota a alguém e veio fazer um servicinho por aqui para pagar sua dívida. Se for isso mesmo, seria o caso de considerar a morte dele como um simples atropelamento mesmo?

A família que ele deixou esperando, será que mora no Paraguai ou em Goiânia? Depois de uma pesquisa rápida, afirmo que existe siderúrgicas nos dois lugares. Se for no Paraguai, ele não via a mulher, e talvez uns filhos, há muito tempo, suponho. Se for em Goiânia, o que será que ele disse aos parentes próximos antes de sair de casa? De repente, ele nem avisou, talvez até estivesse por aqui fugindo de casa.

O cara já se aproximava dos cinqüenta anos e não estava com nada de valor. Esquisito, se pensarmos num atropelamento, unicamente. Quem sabe é verdade o que falei antes, do tal servicinho, aí os que despacharam-o aproveitaram e raparam os bolsos dele também. Digamos que foi a gorjeta. Ou então algum ladrão passou por lá antes da polícia ou da ambulância e surrupiou o paraguaio. Não precisa nem ter sido um ladrão de ofício, basta algum humano não muito bom do juízo que resolveu seguir o ditado que diz: a ocasião faz o ladrão.

Agora, analisando bem a xerox no borrão, ela não aparenta nenhuma imperfeição. Porque será que ela não foi entregue ao cliente que quis a xerox do documento? Será que o cliente encomendou a cópia para pegar depois e não voltou, ou o cara que manuseia a máquina se interessou pelo documento e tirou duas? O que será que o operador queria com essa certidão? E se ele for um curioso escritor também? Será que existe outro texto por aí falando desse mesmo siderúrgico paraguaio, dessa morte e dessa certidão?

De qualquer modo, os mortos e os vivos, que todos descansem em paz.

CA Ribeiro Neto

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* É Natal! Comemorem o que acham que devam comemorar!

* Talvez eu viaje próxima semana, então não sei como será a próxima postagem...

* Caso ela não ocorra, também já deixo um Feliz Ano Novo a todos!

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ESCUTANDO NO MOMENTO: Sinal Fechado - Paulinho da Viola

LENDO NO MOMENTO: Almanaque Armorial - Pg. 35 - Ariano Suassuna (mas ainda continuarei o Contrato Social).


Boa Sorte

10 comentários:

Thiago César disse...

novo integrante do Blogs de Quinta:
Fábio Paulino.
Adicionem, por favor:
http://minhacoreblues.blogspot.com

Marcella disse...

Carlinhos, eu não sei até que ponto isso é bom, mas eu estava ouvindo sua voz. Ficou muito caracterizado pelo seu jeito de falar, ainda mais do que pelo seu jeito de escrever.

E coloco que é baseado em fatos reais que acho que aumenta o interesse.
:p

Beijoooooooooo

Mehazael disse...

Fiquei curioso para saber se isso aconteceu mesmo ou se foi só uma ideia. De qualquer forma, ficou muit bom. Quanto ao meu texto, fiquei um tempo sem responder pelo fato deque fiquei procurando o que precisava ser revisado que você falou (mas não apontou). Confesso que fiquei um tanto obcecado com isso, já que sou revisor de textos e reviso meus textos extensivamente. Tudo o que achei, contudo, foi uma "he" que deveria ser "lhe". Pode me apontar o que precisa mais de revisão? Levo isso como questão até de ego profissional. Não pode passar nada! hauehuaheueheha
Também por isso falei do seu texto, isso costuma me saltar aos olhos (até pq é o meu trabalho), mas sem maldade nenhuma. Bom, mas voltando a este, gostei muito, e ainda fiquei pensando nas mesmas coisas(quem é/foi esse sujeito, sua família, etc). Contineu assim,
Abração!

Paulo Henrique Passos disse...

Cara, num sei se eu ter gostado do texto entra naquilo que tu fala, de que tu se surpreende com os comentários inesperados de alguns textos teus. Mas o fato é que até eu me surpreendi de ter gostado tanto. Essas várias suposições
imaginativas e interessantes e, melhor, tudo pode ser verdade. Tudo ficou muito massa, bem articulado. Perfeito! Foi uma das tuas crônicas mais gostosas de ler que já vi.

Hermes disse...

esse é do tipo que eu consigo ter "certeza" que aconteceu, tu pode ter mudado algumas coisas, mas em geral, deve ter desenrolado algo assim. É bem interessante, e curioso também, mas nunca saberemos a resposta de todas essas perguntas.
E o vidal foi embora.

marilia disse...

Mas essa música fica bonita quando é cantada pelo grupo "Quarteto em Cy"...

marilia disse...

Até isso tu quer controlar... Vou deixar é Guto Ribeiro... acho fofo deste jeito...

marilia disse...

Mudei de ideia... mudei o teu nome lá... o que não se faz para agradar um amigo...beijão

Thiago César disse...

mash, o texto tah muito criativo.
soh axo q antes de partir pra tese do "servicinho" tu devia primeiro ter botado o eu-lirico pensando q o cara estava simplesmente passando ferias aki em fortaleza e talz... pq jah pular assim pro "absurdo" fica meio estranho.

P.S.: comentei no post passado tb!

Giovana disse...

isso aconteceu de verdade? o.o